Estou, aqui, meu filho ... sempre por aqui!
Tu sabes ...
Não sei e nunca saberei viver de outra forma.
Este é o único lugar onde o meu silêncio se quebra.
Onde sinto que a minha sombra não escurece a luminosidade dos dias.
Dos dias dos outros.
Neste lugar silencioso.
Sinto-me em casa.
Noutros tempos
quando acreditávamos na existência da lua
foi-nos possível escrever poemas e
envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído
pelas salivas proibidas - noutros tempos
os dias corriam com a água e limpavam
os líquenes das imundas máscaras
hoje
nenhuma palavra pode ser escrita
nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras
ou se expande pelo corpo estendido
no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se
onde se pode - num vocabulário reduzido e
obsessivo - até que o relâmpago fulmine a língua
e nada mais se consiga ouvir
apesar de tudo
continuamos e repetir os gestos e a beber
a serenidade da seiva - vamos pela febre
dos cedros acima - até que tocamos o místico
arbusto estelar
e
o mistério da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia torrencial
Al-Berto
Horto de Incêndio
3 comentários:
DA SOMBRA
Em casa
neste lugar luminoso
quebrado o silêncio
da sombra sai
o que não escurece
nem cai
e se replica na voz
de um outro ai
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Junho de 2010
Bjis da
Nini
ainda aqui cheguei
e já me fui embora
no silêncio da casa
no vidro que mastiguei
moído
sofrido
uma lasca no coração dos dias
como as pedras onde me deitei
o olhar estelar
espantado
das máscaras nada sei
encho-me de ti
e quebro-me na na tua presença
que acalenta
ainda
e sempre
aqui
...é isto Isabel
que me traz aqui!
um abraço
Manuela
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