12 junho 2010

Ainda aqui ...


Estou, aqui, meu filho ... sempre por aqui!
Tu sabes ...
Não sei e nunca saberei viver de outra forma.
Este é o único lugar onde o meu silêncio se quebra.
Onde sinto que a minha sombra não escurece a luminosidade dos dias.
Dos dias dos outros.
Neste lugar silencioso.
Sinto-me em casa.




Noutros tempos

quando acreditávamos na existência da lua

foi-nos possível escrever poemas e

envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído

pelas salivas proibidas - noutros tempos

os dias corriam com a água e limpavam

os líquenes das imundas máscaras

hoje

nenhuma palavra pode ser escrita

nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras

ou se expande pelo corpo estendido

no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se

onde se pode - num vocabulário reduzido e

obsessivo - até que o relâmpago fulmine a língua

e nada mais se consiga ouvir

apesar de tudo

continuamos e repetir os gestos e a beber

a serenidade da seiva - vamos pela febre

dos cedros acima - até que tocamos o místico

arbusto estelar

e

o mistério da luz fustiga-nos os olhos

numa euforia torrencial

Al-Berto
Horto de Incêndio


3 comentários:

Jaime Latino Ferreira disse...

DA SOMBRA


Em casa
neste lugar luminoso
quebrado o silêncio
da sombra sai
o que não escurece
nem cai
e se replica na voz
de um outro ai


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Junho de 2010

Ana Cristina disse...

Bjis da
Nini

manuela baptista disse...

ainda aqui cheguei
e já me fui embora

no silêncio da casa
no vidro que mastiguei
moído
sofrido
uma lasca no coração dos dias

como as pedras onde me deitei
o olhar estelar
espantado

das máscaras nada sei
encho-me de ti
e quebro-me na na tua presença
que acalenta
ainda
e sempre
aqui

...é isto Isabel
que me traz aqui!

um abraço

Manuela