que interessa seja março ou maio,
sei que abril se aproxima
ou outro mês com nome a inventar
há sempre um amanhã qualquer
a chegar ou já chegado
que se repete,
renovando o bater das asas das gaivotas que vejo da janela
ou em frente ao mar
talvez as mesmas de amanhã
as de há pouco
os gritos repetidos que se soltam dos bicos
volteando por sobre os telhados de vermelho envelhecido
como a mão que escreve sem pensar
quem sabe
terão trocado de lugar
viajado comigo
e agora lá ficou deserto
só tu
na tua rocha cinza
nas marcas das patas das gaivotas no areal húmido
nas ondas cobertas de cavalos marinhos
saídos
do verde transparente do fundo oceânico
adormecidos em conchas de luz
ou baloiços de algas
trocaram de lugar
há sempre qualquer coisa
uma agonia
ou eu
qual grão de areia mais pesado
que se mantém fixo à base da rocha cinza
e não troca de lugar
girando o resto num vórtice
de luz e sombra
e distâncias
entre marcas de tempo indistinto
e a percepção dos dias embaciados de memórias
presas a esta mão que escreve
e não se pensa
apenas ao de leve
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