Hoje, entrei no dia, sabendo, desde o sono, que era o tal.
Um dia antigo, feito de estrelas brilhantes.
Um dia, agora, desfeito em lodo escuro e fundo.
Entrei como animal ferido e febril que só um abraço do sal do mar poderia sarar.
Percorri-o timidamente, numa forma de equilíbrio frágil, não fosse desmoronar-me em lágrimas.
Dividi as horas em silêncios longos, não fossem as palavras trair esta dor tão difícil de carregar.
Esta tão distância de ti, insuportável.
Esta saudade longa de quando te peguei ao primeiro colo.
Até (incrédula) de quando me aninhei, em fuga de mim própria, no teu colo, último.
O dia entrou em mim num vagaroso lamento, perturbado só pelo latejar da dor nas pálpebras.
Pela pedra na boca do estômago.
Desolado e desolador.
Invisível, do lado onde o sol nasce imperturbavelmente radiante.
Hoje, só eu, perante a vertigem e a leveza das marcas dos teus pés descalços no areal da vida.
Perante ti e para sempre, parabéns, meu filho!
2 comentários:
Há-de haver um absoluto nisto. Um qualquer absoluto para a impossibilidade de consolação da mãe que se aninha no colo último do seu filho. "Ouviu-se uma voz em Ramá, uma lamentação e um grande pranto: É Raquel que chora os seus filhos e não quer ser consolada"(Mt 2,18).
Faço silêncio, Isabel. Desejando imensamente a possibilidade de um consolo em pequenos passos. Um beijo - apenas isso.
A eternidade existe sempre no nosso coração, enquanto houver um sopro de amor. O David está sempre aqui no seu amor de mãe e através de si está sempre connosco.
Beijos
Branca
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