Para os meus dias sem falar.
Contigo. De ti.
Ou só comigo.
Que interessa?
E, então, venho.
Numa explosão de saudades e vazio.
De sufoco com a ausência da tua presença ... nas palavras.
(Eu sei que é nas palavras que existes.)
Somente no seu som.
Basta o nomear do teu nome.
David ... nas palavras.
Minhas ou dos outros.
É o eu falar de ti que me dá alento.
O que de ti ficou nos outros que me acalenta.
Mesmo tanto tempo depois.
Apesar de só palavras, no testemunho de quem te conheceu bem.
Materializa-se a leveza da tua força.
Que incorporo em mim.
E, assim, existo.
Embora a sensação de que o futuro ficou atrás de mim.
Da outra parte de mim.
Olá, grande mãe Isabel
Quando me enviou o seu livro, com a sua encantadora dedicatória, e li a primeira página, não aguentei. Guardei-o, para depois, por detrás de outros, numa prateleira. Desculpe!
Há um mês, dei com o olhar do David, na capa do seu livro. Como se olhasse para mim.
Há um mês, dei com o olhar do David, na capa do seu livro. Como se olhasse para mim.
Comecei, acabei e senti que tinha de lhe dizer. É algo pungente e vertiginoso.
Esta sua experiência, relatada em formato
diário, é um verdadeiro portento de amor incondicional a um filho e de coragem. Um terramoto em cada nota, em cada acordar para a realidade. Tão agudo e lúcido que se nos rasga a carne e a mente com uma lâmina
poderosíssima, sempre que o seu olhar materno estudava todos os resultados dos exames médicos, tabelas, evoluções; sempre que a sua ilimitada força de proteger o David esbarrava numa parede invisível e de ninguém; sempre que enxugava as lágrimas e sorria e o abraçava e seguia em frente.
És tão difícil ler o seu "Mamã, vamos dançar"!
Nunca li nada assim! É uma experiência última, de limite.
És tão difícil ler o seu "Mamã, vamos dançar"!
Nunca li nada assim! É uma experiência última, de limite.
Acho que a leitura deste livro faria muito bem a
muita gente que é feliz e não sabe.
Ainda tenho muitas saudades do David e deixe-me dizer-lhe que nunca consegui resolver o nó na garganta pela surpresa do seu desaparecimento. Sinto a falta das nossas conversas (hi5, email e telefónicas) sobre cinema e música e palcos e dança e políticas culturais (tão pobres, nesse país).
Achava-o desconcertante, meigo e engraçado. Inesperado, no seu sentido de humor culto, inteligente e perspicaz (por vezes, cáustico). Era fácil gostar do David.
E, agora, associo ao seu livro as minhas próprias recordações, tão reveladoras da sua personalidade: Um dia, em Novembro, 2006, em que telefonou a contar tudo o que sucedera nos últimos. A mãe fabulosa e que agira rapidamente. Tudo iria correr bem. As conversas ao telefone, sem queixumes da parte dele. A confiança era inabalável. A equipa médica do hospital tão solidária. Os amigos da mãe e do Manuel. O líquido verde e os cremes do Sr. António. Os tratamentos inovadores. A sucessão dos projectos. O amor. "De olhos azuis". Os concertos e as viagens intercalados de quimioterapias ou vice-versa. No problem! Mudança de protocolos nas quimioterapias. Mais agressivas. No problem! As reuniões com os colegas do Drumming, para novos projectos, no sossego do escritório. A intensidade do projecto Zeca. A ternura do apoio do irmão. Sempre a mãe como rocha que ampara. E o Manel que segura a mãe. Um sucesso, a luz num espectáculo em Madrid, mas ele ausente. Mesmo assim, orgulhoso. No problem! Novos projectos, uma empresa, agora de gestão cultural. Pedia-me contactos. A vinda para um ensaio experimental em Val d'Ebron (e eu mais alerta). Um jantar de aniversário em Barcelona. Um concerto no Teatro Grego, sob chuva intensa. A família paterna, desilusão e tristeza. Mas a firmeza do David, na nossa conversa. E sempre a mãe, à sua espera. O regresso sem rede, sem um telefonema a pedir ajuda. Depois, o silêncio.
Agora, de novo, o meu querido amigo David, através de si.
Obrigada, Isabel
Agora, de novo, o meu querido amigo David, através de si.
Obrigada, Isabel
Marta Valera
(P.S. Este texto foi traduzido do castelhano.)
(P.S. Este texto foi traduzido do castelhano.)
Sem comentários:
Enviar um comentário