10 setembro 2012

Rir para não chorar

"Perdemos os sonhos ou são os sonhos que nos perdem?"

Há muito tempo (ou nem tanto!), seria impossível eu perder os sonhos. Deixar de sonhar, não! Inimaginável, diriam os que melhor me conheciam.
"Lá estás tu com as tuas utopias, Isabel! Talvez tenhas razão, mas é pura utopia!"
"Põe os pés na terra, deixa-te de sonhos!"

Mas eu sonhava e, por entre os sonhos, (que ninguém notava), era igual aos outros.
O mesmo trabalho, a mesma disponibilidade, o mesmo cansaço, o mesmo entusiasmo.
Ano, após ano.

Os filhos a crescerem, dentro e fora dos meus sonhos. 
E eu dentro dos sonhos deles, queria crer.
Os meninos filhos e a sua mãe.
Sem desvios no caminho.


Os alunos a chegarem, um brilhozinho nos olhos sorrateiros a espreitarem-me.
E eu a fingir que não via.
Mas a aconchegá-los, logo, nos meus sonhos. 
Na utopia que me guiava e que, com eles, partilhava.
E juntos caminhávamos, porque só assim conseguia o que buscava.
Vê-los partirem, embalados noutros sonhos, levando um pouco de mim.
Porque me dava, sem nada perder.
Nunca se perde quando nos damos e lhes mostramos a alma.
Regressem, eles, um dia ou não.
Fizeram parte do meu sonho!
Os meus alunos, meninos.

"Perdemos os sonhos ou são os sonhos que nos perdem?"
Não sei.
Ando perdida, eu!
De mim e do sonho dentro do qual me sonhava!
Os caminhos por onde os sonhos andam; não os voltei a percorrer.
Encontro, às vezes, os meus meninos alunos e, por breves instantes, cruzo-me com a outra que eu era.
Até repito os gestos e o bater do coração, perante aqueles brilhozinhos nos olhos que cresceram e me abraçam e me dizem que nunca me vão esquecer.

Mas depois ...
Houve um setembro em que não regressei à escola, não recebi mais alunos meninos, nem os espreitei com o meu sonho.
Passei-lhes ao lado, cansada e com medo dos sonhos que lhes via na curiosidade do olhar. 
O coração fechara-se!
Abrir-lhes o caminho da utopia? 
Passara a ser uma utopia! 

Houve um 10 de setembro, numa abrasadora cidade de nome Barcelona, em que um dos meus filhos meninos deixou escorrer uma lágrima.
De pesado súbito desalento.
Foi um instante de lágrima!
Envolto num ténue sorriso ...

Nessa lágrima, afogou-se a força com que se consegue sonhar.








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1 comentário:

Branca disse...

É verdade Isabel,

Para quem não passa por dores pesadas,é difícil compreender como se perde a força para sonhar, mesmo quando em nós existia toda a força do mundo e eu sinto que a Isabel foi uma mulher e mãe com toda a força do mundo, sinto que mesmo agora o é, apesar de lá dentro ter escondido um sonho desfeito, mas ainda tem a força suficiente para arrancar gestos de dar do mais fundo de si. Eu sei, eu já vi e poucos teriam essa força de disfarçar tão bem uma dor tão grande, por isso a sua dádiva aos outros é ainda maior e é uma benção para quem a recebe.

Beijos
Branca