Um bolo de requeijão.
Que estranho falar destas coisas tão banais, aqui.
E, no entanto, são importantes, para mim.
Por isso, falo delas só aqui; porque não sou capaz de falar delas.
Reflectem muito do que vai doer sempre, cá dentro.
Pequeninas coisas soltas que flutuam num imenso mar de saudades.
Bebi um copo de leite frio, pela primeira vez, desde que o David morreu.
Fiz um bolo de requeijão.
O ultimo bolo de requeijão, … levei-o para o hospital de dia, durante uma das quimioterapias do David, para oferecer às enfermeiras e doentes.
Eu era a “senhora dos bolos”, mãe daquele rapazinho …
Já repararam num copo grande de vidro cheio de leite? É tão bonito!
O David adorava beber um enorme copo de vidro transparente, cheio de leite frio…
E mirava-o, antes de o beber. Achava-o bonito.
Luminoso!
Também eu sempre gostei de fazer estranhas combinações.
Beber leite em grandes copos de cerveja ou de sumo ou cálices de vinho do Porto.
Tomar café em copos pequeninos de vidro, de bagaço, …
O leite branco … era comum aos dois!
Bebi um copo de leite frio e vieram-me as lágrimas aos olhos.
Não foi apenas um copo de leite.
Tinha o sabor amargo da saudade.