Chegou cedo
O tempo em que o tempo se rasga.
Basta um dedilhar de guitarra
Para que o meu sangue
Em movimento incessante
Se sobressalte
Basta, tão só
Cerrar os olhos
E regresso a ti.
À ternura.
Donde nunca saí.
Basta um som de tango
Um swing ondulante
Ou tão só o vibrar das teclas de um piano triste
Cerrar as pálpebras
Cerrar os punhos
Encerrar-me num silêncio
Musical e luminoso
E, devagar,
Ao som da dor
Regressar a mim
Despida de enfeites
De sorrisos feitos
Depois que o tempo
Ficou vazio de ti.
Então
Na planura da saudade
Sem sonhos
Sem timbre ou melodia
Sem luz de projetores
Sem papagaios de papel
A fugir no alto
Em direção ao mar
Esqueço a claridade
Que vem de fora
Devagar
Sem dominar o porquê
Volta o tempo
Em que o tempo se estilhaçou
E eu me quebrei!
Apanho, então, cada pedacinho de mim
Da minh' alma deserta
E recomeço
Recomeço
Recomeço
E recomeço