tanto sol, que não posso continuar
como se nada fora.
Já tudo é novamente
já tudo foi
de tal maneira sol
de tal modo março,
março com sol,
que me fico exangue
despojada de força
para avançar
pensando no que ser
diferente do que possa já ter sido
neste círculo desencantado
de março a novo março
do sol que fez
ao sol que,
certamente,
fará.
Que não seja, então, março novamente
uma, outra e outra vez
mas, sendo,
que não se abata sobre nós
o mesmo sol indecoroso e pálido
que insiste em me insultar.
Mas, teimando o sol,
que não seja em março,
o mês do medo,
o mês que transforma em lágrimas suplicantes
todas as certezas
toda a minha luz.
Mas, se houver sol
e tiver mesmo de ser março,
que nada tenha sido como foi
e eu e tu continuemos, num tempo coincidente.
Que problema tem
que haja um tempo (dir-se-ia) paralelo
em que possamos ser como se nada fora,
março ou não, brilhante de sol
ou negro de chuva?
Ah, agora me lembro.
Vivi tão perdidamente um tempo absurdo e sem futuro
que o tempo ou a percepção dele me faz suar.
Prefiro, então, não sentir que existe tempo.
Certo
é que este ou qualquer outro março
de sol se o for ou de chuva como sol
virá
como veio aquele antigo
e me encontrei perdida
sem saber para onde seguir.
Sei!
Virá
o nó nas entranhas, o grito abafado na garganta.
Virá
sempre e eu,
outra e outra vez, sem saber por onde seguir.
Não há como escapar!
Embora eu continue de garras afiadas.