Para onde correm as pessoas
Olhando em frente
Num esvoaçar atordoado?
Porque se enchem as ruas de gente
Sem que ninguém repare
Que não há sorrisos abertos
Nem música no falar
Nem risos
Nem abraços.
Mas é Natal!
Só pés cansados
E pressa de chegar depressa
Ao sossego triste do lar?
Vale o sentido do dever
Cumprido.
Pois é Natal.
Porque não param para olhar
Quem passa por elas?
Pois se até os ombros se tocam
Nos corredores apinhados
E não sentem
Nem reparam
Que é a sua carne contra a carne de alguém
Humanidade, mesmo ao lado
Alegria ou então, talvez, dor
Contra dor
Contra alegria
Saudade contra saudade.
Melancolia a par de melancolia.
Fome até, talvez.
E é Natal!
Não sabem
Porque não param
Não olham
Não falam
Para além do preço regateado
De mais um presente
Embrulhado
De mais um saco que se enche
Para substituir o vazio amargo dos dias.
E eu parada, cansada
De ver as gentes correr
Num rodopiar eufórico
Elétrico
Na busca de sentido para o nevoeiro
Dos dias.
Sem sentido.
E eu, aqui, quieta, David.
Tu ao meu lado.
Sinto tão bem a tua cabeça apoiada no meu ombro!
Ainda mais, nestes dias
Em que a tremura aumenta.
Na iminência do Natal.
E, embora estejas ausente,
Tão inesperadamente ausente
E, eternamente, o lamente
É, pelos teus olhos, que vejo o mundo.
Ainda
Pelos teus olhos ausentes.
Este mundo que, num corropio, rodopia.
Este mundo que eu estranho
Mas
Por onde o teu coração me guia.