26 julho 2010

Desaniversário



David

Também vieste num dia 27!
Sei que sabes que, amanhã, trocaria de mês, de dia, de vida ... contigo!
De certa forma, sinto-me uma intrusa.
E tu percebes-me bem ...
Nunca liguei ao meu dia de aniversário!
Uma questão de hábito ... está-se de férias!
E, agora!
Como pode sentir-se feliz alguém por ter nascido ... para assistir à morte de um filho a quem deu vida?
Fica-se muito zangado com os dias.
Que seja, então, pelos que gostam de mim.
Sobretudo pelos meus pais ... !



22 julho 2010

A seguir ...



Dizem que se vai vivendo por objectivos.
Vivi a doença do David, conduzida pela esperança que me recusei a perder.
Nem foi uma questão de recusar. Não.
As coisas não funcionam assim.
Situações extremas como a que vivi (em que vivo) não são comandadas por nós, não racionalmente.
A esperança impõe-se e é tudo. É ela que nos conduz.
E tinha um objectivo! Imenso! A cura do David.

Eu tenho um neto.
Eu tenho um filho.
Estas são questões sobre as quais não reflicto naquele sentido em que me dizem "Tens um neto, estás a ver? Veio ocupar-te! E o teu filho precisa de ti! E o Manel! e ... E..."
As pessoas não compreendem! Nada, ninguém se sobrepõe à mãe e avó que sou. Faz parte da natureza humana.
Não mudei como mãe, sou uma avó feliz ... Vivo a circunstância presente, não descurando os presentes. Fazem parte de mim. Impossível não viver para eles, sempre ... mesmo que pareça adormecida no outro cantinho de mim. Chamado David.
Nada, nada se mistura.

No entanto, falta-me a outra parte do que fui; daquela que escolhi ser - mãe de outro filho.
E essa foi um ser único que existiu, enquanto existimos todos.
Esse ser que foi único ... transformou-se nesta ... que é também única e não consegue ser mais do que é.
Saudosa por um filho que já não tem, desde o nascer do sol de hoje ao nascer do sol de amanhã!
Engelhada pela dor que não quero que seja visível, desde a vinda do sol ao regresso da lua.
Talvez só então!!
Solitária nesta condição de orfã de um filho...
Esta solidão não se partilha. É única e, também por isso, eu (talvez qualquer mãe que perde um filho) sou única.
Mas não sou menos para os outros. Não os amo menos. Amo-os com todo o amor a que têm, por natureza da situação, direito. E dou-o na totalidade.

A outra, a que existe ferida de morte dentro de mim, ama também e da mesma forma ... o filho que partiu.
Partimos os dois!
Seguimos caminhos que nunca se cruzarão.
Daí esta saudade!
Daí este novo vazio que me sacode e me diz que preciso de novo objectivo ... agora que o livro se fechou.
Um objectivo que, de alguma forma, esteja relacionado com o David!
Para me manter viva na parte de mim que foi ferida irremediavelmente de morte!


Gato Barbieri

Olá, caros ouvintes!

Com o inicio desta semana, terminou o ciclo de instrumentos que tem vindo a decorrer há cerca de dois meses.

A partir de hoje, vou falar aleatoriamente sobre músicos de jazz de qualquer parte do mundo. Alguns destes músicos nunca passaram pelo jazz faz tarde, outros já passaram mas são tão bons que terão direito a passar outra vez por aqui.

Outros ainda ...não são propriamente músicos típicos do jazz nem perseguem esse estilo ... mas sente-se a influência na sua música e claro são óptimos artistas.

Hoje vamos ouvir um senhor chamado Gato Barbieri que é um saxofonista argentino que toca como se o seu sax estivesse a arder. Se quiserem saber mais sobre o Gato Barbieri podem escrever para o email jazzfaztarde@hotmail.com

Até logo...

21 julho 2010

Ponto final?



E, agora, David?
Houve um dia 18, há 3 dias.
Mas ...
Por vezes, sinto-me tão parada no tempo que todos os dias são o mesmo dia.
Dias todos 18.
Mas este dia 18 que passou foi especial.
Terminei o livro e enviei-o para duas editoras.
Agora, tenho de esperar.
Sinto-me um pouco à toa ... agora que decidi pôr um ponto final no livro e enviá-lo.
O ponto final encerrou o livro ... eu andava a cirandar, a cirandar ...
Com medo deste agora.
E, agora, David ... que faço?

Um beijo de gratidão à minha cunhada!
Foi a opinião dela que me deu alento a publicar o livro.


Cool

Após o momento de viragem que o Bebop causou no jazz ,veio outro estilo chamado Cool.

Esta foi mais uma maneira de tocar, uma sonoridade, um raciocínio do que propriamente um estilo ou um movimento cultural.

Nesta época que abrange os anos 40 e 50, surgiram músicos com discursos musicais mais descontraídos, tocando sonoridades lisas, sem vibrato. Tudo muito, cool...

As vedetas deste estilo foram: Stan Kenton, Lennie Tristano, Miles Davis, Stan Getz e o pianista Dave Brubeck.

Esta foi uma época na qual os músicos de jazz pensaram nas expressões da música europeia. Sobretudo em termos rítmicos. O cool estava sobretudo longe da transpiração quente do bebop.

Deixo-vos agora com o... Jazz Faz Tarde

Até logo...

David Sobral

13 julho 2010

Outra e outra vez!

Aqui.

Talvez só aqui ... me seja permitido sentir que a morte do meu filho se repete ...

Todos os dias.

E dizê-lo, ... porque é verdade.

Porque a recordo, todos os dias.

Dói ... sobretudo à noite.

E não me deixa dormir.

Ando exausta de sofrer.

Cansada de fingir que "dei a volta por cima" ...

Não dei ... sei que não darei!

Resta-me continuar, com o coração afogado na dor das saudades

Sem que os olhos sejam o seu reflexo.

Porque me dizem "Há muita gente que precisa de ti!"

Mesmo assim, só pela metade de mim?

Talvez ...

Quero acreditar que sim ...

Só por isso resisto!


Olá caros ouvintes, hoje o convidado do jazz faz tarde é o pianista louco Cecil Taylor. Este senhor começou a sua carreira nos já longínquos anos 50 e continua a tocar ainda hoje.

Este senhor é um louco do free jazz e cedo deixou de tocar clássicos e jazz normal. As suas actuações são fortes e bastante intensas assim como a sua música e o seu estilo de tocar piano. O seu som é forte e a sua música é algo atonal.

Escusado será dizer que a música de Cecil Taylor não é para todos mas também tem o seu culto e os seus seguidores, como todos os outros artistas.

Vamos ouvir o senhor Cecil Taylor e até logo que Jazz Faz Tarde ...

David Sobral