06 setembro 2017

A marca das datas.














6 Setembro 07

 

Hoje, logo pela manhã, recebi um telefonema do X. Disse que o tratamento teria de ser adiado; as bilirrubinas do David estão muito altas. Comecei a suarsuores frios, e senti a força a esvair-se. Outra vez aquela sensação de precisar de vomitar!! 
    Avisei o David, ainda sonolento, tentando não demonstrar pânico, e disse-lhe que era melhor continuar a dormir. Comeu porque estava em jejum e voltou a adormecer, até à uma da tarde. Enquanto dorme, o tempo passa, não pensa nestas imprevistas alterações e descansa. Sobretudo, não pensa!!
Já tinha visto no protocolo do ensaio qualquer coisa relacionada com as bilirrubinas, mas, na altura, não prestei atenção. Não imaginei que pudesse suceder também com o David. O ensaio também é para o mieloma. Mas tudo de mau acontece ao meu filho!
As bilirrubinas estão relacionadas com o fígado! Será disso a cor amarelada da pele? A Dra M. telefonou, mais tarde, a dizer que temos uma ressonância ao fígado marcada para hoje à tarde, na Clínica dell Pilar. Lá fomos. Esperámos um bocadinho, o David entrou e deram-nos logo “as chapas”. O relatório será enviado, por fax, para a médica.
Regressámos, logo, a casa, depois de uns minutos numa esplanada para bebermos água. O cansaço não se aguenta e eu ando como um zombie. Amanhã, vamos ao hospital, saber do resultado da ressonância!! Que mais irá acontecer? Maldita pouca sorte! Tanto sofrimento! Porque não morrer-se, durante a noite... um sono que se prolongue e se alongue, alongue... profundo e sem acordares dolorosos para mais um dia de dor? Porque não, enquanto há esperança... mesmo que seja vã! Percebo melhor, agora, aquele ditado popular “Enquanto há vida, há esperança!”

Liguei à Graça Ferreira, minha colega e amiga da escola, e à Berta Ribas; preciso que me digam o que poderá estar na origem deste tom amarelado e das tais bilirrubinas. A Berta, como sempre, brinca comigo e disse-me que a icterícia é o que têm os bebé. A Graça falou com o marido. Foram sempre muito amáveis, pacientes e disponíveis para me aturarem, nas minhas crises de dúvidas e de inquietação. De forma suave, sempre me animaram, mas nunca me enganaram. Tanta gente que nunca me quis dizer que podíamos avançar com confiança; com muitos maus bocados pelo meio... mas com confiança! E uma possibilidade veio ensombrar os meus dias já tão tristes... descoberta na internet. Pode não ser nada, mas também pode ser uma metástase do fígado que aumentou e que pode estar a bloquear as vias biliares. As minhas mãos tremem! O coração desata a latejar, apesar de cansado de se debater contra o pânico, contra a amargura de ver o meu filho sofrer tanto.
Têm sido assim os dias e a vida, desde Março de 2006.
Já não me lembro de ter outra. Onde não vivesse afogada em medo!
É o meu filho!
E dizem-me que tenha fé; Deus existe! Onde está, que não o vejo? Que preciso de acreditar! Talvez. Mas acreditar em quê? Em quê?
Na sorte! Não, a sorte nunca esteve de mão dada connosco.
Tivemos muitos amigos a torcer por nós! Pelo David! Mas fomos, também, alvo de inesperadas atitudes de desdém e inacreditáveis surpresas de completo desamor.
Não, a sorte não protege os audazes!