04 janeiro 2016

Obrigada, Jaime Azinheira

David querido
Hoje é um dia de tristeza imensa.
O teu/ nosso amigo Jaime Azinheira morreu ... depois de ir lentamente adormecendo, como tu, no Hospital de S. António. Temia o pior, o meu coração ansioso. Coisas da Amizade incondicional.

A dor que causou em mim não é comparável. A tua partida rasgou-me as entranhas; dividiu-me em duas que, até hoje, não se reencontraram, nas vielas sombrias da saudade.
Aparecem sempre juntas, choram juntas, sorriem juntas ... Puro teatro!

Mas o nosso Jaime morreu; e doeu-me mais na ferida que tu abriste; tenho pendurado na parede o "Tríptico para o David", com um poema lindíssimo que ele me ofereceu, quando foste.
As raízes da minha amizade pelo Jaime e pela Elsa vêm de longe, ainda eras pequenino, um bebé de meses.

Gostava muito de ti, o Jaime.
Tu gostavas muito dele; achavas piada às cantorias dele nos piqueniques de verão; rias-te com as quadras e rimas que ele inventava, assim num estalar de dedos; espantava-te a forma ágil e arrapazada como ele trepava pelas rochas ou saltava por cima de regatos. Tinham alguns gostos musicais iguais.

Quando fomos a uma consulta a Paris, (tu já muito doente) não resististe a comprar um chapéu do mesmo estilo do que o Jaime usava. Que nunca viras nenhum parecido.
Ofereci-o, depois, ao Jaime, como recordação tua. Só podia ser para o Jaime!

Soube, hoje, pela Elsa que ele o usou quase sempre nestes últimos tempos e até explicou ao médico a quem pertencera e como tinha ido parar às mãos dele! E falou de ti.
Querido Jaime!

Agora, o chapéu vai voltar para mim.
Ficarei com esta recordação tão doce do querido Jaime e com mais o bocadinho de ti que vivia com ele.