22 julho 2015

Nenhum palácio encantado da ventura!



Ouço tantos falarem da obrigação de se ser feliz.
Apesar de tudo.
Apesar da morte de um filho ...
Outros tantos dizerem que ser feliz é um imperativo.
Porque sim! Vida há só uma ...
Doa a quem doer.
O que passou, passou!! Agora, é olhar em frente. Mesmo não vislumbrando o percurso ...
Existem sempre vozes seguras que se impõem, catárticas.
Sábias, inquestionáveis nas suas certezas absolutas.
Egoístas. Absurdas. Maniqueístas.
No deserto entre o ser e o não ser.
Prepotentes, neste lodo difuso, em que só somos ... se todos formos.
Enquadrados! Iguais.
Que é o mesmo que dizer.
Iguais a nada. Cinzentos.
Submissos às maiorias que vingam; armadilhados entre crenças ancestrais; servos de um hedonismo balofo.


Eu reivindico o meu direito à tristeza da saudade, à melancolia, por contraposição à imposição de ser feliz.
É que, à minha maneira, sou muitas vezes feliz (apesar da dor aguda cravada no bocadinho de carne onde dizem estar o sentir).
Antecipo os meus momentos de felicidade.
(Sei quando o sorriso dos meus netos vai bater à minha porta!)
E nunca fujo!
Mas não me imponham a busca da ventura como preceito!

Como lema de vida, tenho um, apenas -  actuar sempre de forma que a minha mãe Alice e tu, querido, muito querido David se sentissem orgulhosos de mim!!
É uma forma simples de buscar a paz.






Paragem num tempo vago ...



















Segredos do oceano

Ouvi o vento
Observei a minha vida
Nascer para ser selvagem...
Era o que eu pensava
Mas quem falou comigo?
Que não vi
Dei-lhe um beijo.
Talvez sinta a minha falta
Porque eu fugi
Por algum tempo
Em busca do meu dia
Esquecendo o meu lamento.

            Porquê chorar? Porquê?
            Não sei
            E não quero saber
            E não preciso
            E porquê chorar?

Os meus passos
A par do meu destino
Amarram os meus pensamentos,
De outro modo livres
Cheguei então ao meu destino
Onde está o mar
Corri pela praia
Parei quando encontrei
Um cavalo-marinho
Com quem tinha falado
Disse que a razão da minha raiva
Me empurra para a morte
Procurei o que todos procuram
A imortalidade
Que não existe!

Mas eu sei
Que o segredo da imortalidade
É saber partilhar
Com os deuses a maravilha da criação
E os cavalos-marinhos mergulham
No oceano
E o silêncio chora comigo

David Sobral (1995)