11 junho 2015

O tempo desagua em ti ...

E resta-me viver
 ...
não antevendo com que alfabeto traduzir-me
escurecendo a um canto de mim
mil vezes ao dia
nas entranhas aduridas de saudade antiga
resistindo à voragem do medo que atordoa
no cárcere de um tempo cego,
inverosímil, sem ti
sorvendo silêncio e solidão onde me abrigue.
ou, então, fixando-te, menino, por detrás das pálpebras
e
desistir de todos os desígnios
ensaiar na pele a água fria do mar
como quem navega
(tu, sereno, mesmo ao lado)
desertar de quem me habita
eu e a outra.
Ficar estranha de mim
Aconchegada
Numa névoa branca da memória.



                         Morreu Ornette Coleman - um pedacinho mais de ti.