16 setembro 2014

Só porque pensei David




Às vezes


Sophia de Mello Breyner 

Às vezes julgo ver nos meus olhos
(Com olhos outros, alguém que já não eu)

A promessa de outros seres
(Outros porquê? Se me bastava assim)

Que eu podia ter sido,
(Como e quem, sem ti?)

Se a vida tivesse sido outra.
(Vida apenas ... )


Mas dessa fabulosa descoberta
(Dolorosa ... dia a dia)

Só me vem o terror e a mágoa
(Palavras gravadas a medo)

De me sentir sem forma, vaga e incerta
(Nua entre farpas desfeitas em sangue)

Como a água.
(Ou a espuma.)

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