01 agosto 2014

Pedaços de Barcelona


E eis que chega Agosto.
Nome de mês.
Férias, calor, e a dor a começar a latejar baixinho ...
Cá dentro, baixinho.
A saudade a respirar devagarinho, contida.
Silenciosa.
Para que não se ouça do lado de fora.
De quem olha.
Mas não vê.
De quem sabe.
Mas não pressente.
Ou talvez sim.
Que a dor vai devorar Agosto.
Que Agosto me estrangula a voz e o olhar e o sentir.
Que vou desaguar no medo.
Outra vez.

E eu a desdobrar-me ... Em duas, em três.
A retocar-me.
A endireitar-me.
A sacudir a outra.
Abrir os braços para uns braços pequeninos.
Que me acolhem meigos, com olhos doces.
E eu a renovar-me.
No reflexo da ternura.

A dor aninhada, então.
Dentro de mim.

Mas logo.
No céu azul seco de Agosto.
Por detrás de uma nuvem golfinho.
Seguir o rasto do avião, ...
Persegui-lo silente.
Fazer outra viagem, renovar a esperança.
Saber da queda e, mesmo assim.
Persegui-lo com olhos de água.

E eu a colar-me ao tempo.
Repetir dentro de mim.
Que, em tempos, houve um tempo.
Um Agosto que marcou toda a diferença.
Um rasto branco de avião.
Levou-nos no azul ... da esperança.

Mal partimos.
Uma nuvem lágrima  ...
Um Agosto longo, solitário e distante.
Em que eu não regressei de mim.
Nem tu regressaste a ti.

E, no entanto, eu.
Só eu.
Aqui.
Em Agosto.
Sou tantas!!
As que é preciso ser