18 julho 2014

En mi piel


Chegas silencioso quando os meus olhos cansados se vão ausentando no escurecer de um sono oco.  A tua imagem insinua-se. Tu, o teu olhar, os nossos dias, os bons ... os outros. E o teu sorriso de menino ainda, já distante. Eu outra, a antiga, ainda com a promessa de um Julho com papoilas à tua frente. Havia tempo ... onde tempo já não havia.
A violência do que sinto atordoa, no silêncio Abro os olhos, mão estendida no escuro.
Escrever, então! Rescrever. À toa. Como forma de ópio para que a saudade acumulada se esvaia ... por agora.  E, depois, reler. Para voltar a viver. Outras vidas. Sempre a mesma, a nossa, repetida. Onde te encontro, breve.
Pouco importa! Estás. Revives nas palavras que risco.
É nesta cápsula de memória que regresso ao porto sereno da acalmia.



11 julho 2014

Pouco importa

Nestes desencontros nocturnos
Te procuro
Sabendo que te encontro

E, com isso, me basto
E me alimento

À revelia de quem olha para mim
E não me vê



03 julho 2014

Na proporção inversa da vida

O grito torna-se latente.
O suor.
Se aqui não regresso.
Às feridas abertas.
O amargo acumula-se surdo no mais fundo interior de mim.
E arde.
Se aqui não venho, sarar-me.

Há os outros ... lá fora.

Mas em mim nada mudou.
A saudade transborda, a névoa da ausência adensa-se.
Intensa, não abranda.
Dispersa-se nas entranhas dos meus poros, sedentos de um toque ou de um estender de mão.
Da tua mão.
Ou de um abraço.
A leveza, ainda que sempre passageira, ausentou-se de mim.
Os sonhos, ainda que simples, perderam-se no tempo em que eras.

Pareço diferente? Não sou ...

Mas há os outros ...

Sou a tua mesma mãe dorida e derrotada por uma luta vã.
Ainda em luto, aconchego o fingir, dentro de mim.
Como se natural.
Desdobro-me em duas.
Como se natural.
Fosse o reverso da vida.