12 outubro 2013

Um sábado no meio de Outubro




E o ciclo repete-se
Com a mesma nitidez a branco e preto
A mesma ausência de mim
Os mesmos estilhaços pontiagudos da dor
Como se hoje fora então
A mesma ansiedade
A angústia
O mesmo vómito de medo
Pânico

Uma ida à urgência
Mais uma
A última ... Sem sabermos.
O último sono em casa
A tua mão à procura da minha
Num aperto cúmplice
Um silêncio estranho
Desconhecido

Um quarto branco (chamado 24) acolheu-nos
Nós, teimosamente inseparáveis
Inflexíveis residentes na esperança
(Já do nada, sabia-o eu, ainda que não sabendo)

Cinco vezes o nascer do sol
Estupidamente quente e brilhante
Reflectido na brancura das paredes daquele quarto
Em penumbra
E tu a adormeceres, entre conversas doces e lentas
As minhas entranhas frias a escaldar
E tu, David, a serenares num sorriso ainda lúcido
No abraço da noite
A minha fingida serenidade a rasgar-me
A querer revelar-se em lágrimas
A vomitar sangue dentro de mim
Eu só nudez de dor vestida de saudade
de amor

Uma certa forma de ausência já
Abandonados um ao outro
Desgarrados 
Distantes da luz brilhante de Outubro

Saí eu, ao fim dos cinco sóis
Só eu
...
Que já não era eu
Uma outra, alguém diferente
Desconhecida de mim mesmo
Eu com ninguém dentro de mim

Como poderia sair eu
Se fiquei ... 
Onde não sei?



........

2 comentários:

Branca disse...

"Como poderia sair eu

Se fiquei ...

onde não sei?"


Eu penso que sei onde ficou Isabel e só lhe posso mandar mil beijos e um abraço apertadinho.

Branca

sara disse...

eu entendo Isabel, eu mesma me perderia se perdesse uma das minhas filhas... dá-me um arrepio sempre que leio os seus textos... é lindo o seu amor incondicional, a sua saudade! Sabe Isabel, a primeira vez que a ouvi foi na tv e desde logo fiquei emocionada com a vossa história, sabe Isabel há uma coincidência que nos une... no dia 18 de outubro de 2007, no hospital de sto. António, a Isabel despedia-se o seu grande amor, o seu filho David, e eu dava as boas vindas à minha filhinha, o meu grande amor, a Leonor, que tem agora seis anos... fiquei extremamente comovida, nem lhe sei explicar... um beijo grande no seu coração de mãe