24 abril 2013

Ao longe ... O som de abril




Será o som de foguetes, o som que ouço?
Ou o bater do coração, talvez mais forte ou desolado, hoje
Que sei ser o dia antes de um dia de sol
Do Abril em que vieste?
Mas não estás ...

O ribombar dos foguetes continua.
Têm a cor dos cravos vermelhos de um outro Abril.
Num palco que iluminaste, numa noite ...
Quase igual.
Num hino, muito teu, à Liberdade.

Os cravos.
Deixo-os, às vezes, outros, no areal, junto ao teu mar ...

Os foguetes!
O renovar do hino.
Quero mas não quero ouvir.
Tapo os ouvidos.
Apago a luz.

Não existir.

09 abril 2013

Abril





Não o sonho

Talvez sejas a breve
recordação de um sonho
de que alguém (talvez tu) acordou
(não o sonho, mas a recordação dele),
um sonho parado de que restam
apenas imagens desfeitas, pressentimentos.
Também eu não me lembro,
também eu estou preso nos meus sentidos
sem poder sair. Se pudesses ouvir,
aqui dentro, o barulho que fazem os meus sentidos,
animais acossados e perdidos
tacteando! Os meus sentidos expulsaram-me de mim,
desamarraram-me de mim e agora
só me lembro pelo lado de fora.

Manuel António Pina

04 abril 2013

O não vivido



O tempo apaga tudo
Menos esse longo indelével rasto
Que o não vivido deixa. 

Sophia de Mello Breyner Andresen





Como quem visita outros blogues
Assim eu, aqui, venho.

E saio.

Sem palavras que cheguem ... para o que tenho a dizer.
O que sinto.
Demasiado.

Então.

Há quem se lembre de mim.
E me socorra.
Como se percebesse a razão do meu silêncio.

Obrigada, Z.
É isto!
Que muitos não compreendem...
E eu não sei dizer.