25 novembro 2011

Ainda o tempo


"Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados."
composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa


O tempo.
A percepção do fluir do tempo.
E a recusa em deixar que o passado se afaste, levando-te de nós.
O largar da tua mão; uma bifurcação ... o ter de deixar que te vás por um caminho diferente. E o meu não  querer ; o meu não poder sequer já querer.
O saber-nos viajantes por estradas que jamais se cruzarão.
O saber-te sem regresso!
Apesar de, ainda, parada, à tua espera, junto ao abismo desse instante de tempo; os olhos embebidos de luz que já escurece e de sons que, subitamente, emudecem.
Levaste-os contigo.
E tempo ficou vazio e eu com ele, privada da tua harmonia mágica de luz e som.
Do brilho risonho, simples e cativante do teu olhar.

Sempre o tempo e a estranha sensação de que não consigo medi-lo.
Enrodilhada entre passado e futuro; nesta ânsia tão presente.
O tempo que se estende, certamente.
Mas não sinto.
Não decorre ... porque o penso, a cada instante.
Abril, o teu mês de Abril ... em plena e luminosa primavera.
O meu tempo é de fios tintos de saudade doce e amarga que percorre vastos espaços transparentes, ausentes de hábitos, fora da realidade comum.
Vivo, flutuando instável! Num vaivém contínuo; perturbada do passado, descrente no futuro.
Que ponte do tempo permitirá a passagem a quem já foi e a quem se procura ... sendo que as duas somos apenas uma.

Titubeio nos atalhos entre passado e futuro.
E penso no quanto me tarda a sensação de estar viva.

Talvez só se possa sentir o fluir do tempo, quando não se pensa.










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