17 julho 2011


Já fumei vários cigarros, já os apaguei meio fumados; já montei malhas para nova gola, já as desmontei; já desmanchei um outro cachecol, não me agradou.
Tricotar é o meu último recurso para serenar.
Hoje, não serve.
Decidi cozinhar ... mas, afinal, não me apetece.
Ainda não.
Já rasguei papéis.
Este nó na garganta e uma sensação de que algo me vai agoniar.
Antes do medo, senti sempre esta agonia a subir-me à boca.
Esvazio gavetas para as voltar a encher com as mesmas coisas, numa ordem talvez diferente. Já não me lembro.

O vento faz tilintar o espanta-espíritos
Espreito o céu; desço os olhos até à rua, onde não vejo o teu carro azul.
Tempo flutuante como o meu sentir.
Como a minha desordem interior que  não arrumo ... como se arrumam gavetas.
É estranho como acabo por sentir tanta falta destas coisas a que antes pouco ligava.
Agora, recolho tudo o que, ainda, fala de ti.

Vou guardando no gavetão - um roupão azul, a camisa mais bonita, uma camisola verde da cor dos teus olhos, umas pantufas, revistas onde, recentemente, escreveram o teu nome por ter sido um dos cinco nomes finalistas para uma nova rua do Porto; uma gabardine preta da Muji dentro de um saquinho preto (comprámo-la em Barcelona); os teus filtros de luz; três dentinhos de leite ...; as tuas músicas preferidas ...

E, no canto dos olhos, a lágrima que se anuncia.

Talvez, agora, consiga iniciar outro cachecol.
Mas não.
Que fazer com este tumulto interior?
Com esta dor que me paraliza a vontade?

De fora, ninguém nota nada. 
Habituámo-nos a conviver, eu e a outra.
A que se esconde, revelando-se, e a que se revela, escondendo-se.
Entretanto, na televisão, na MEZZO, o Plácido Domingo canta "besa-me, besa-me mucho como se fuera esta noche la ultima vez ..."
E no canto dos olhos, aquela lágrima fugidia.
A mesma que, ontem, limpei, quando a Cristina Branco cantou "Sete pedaços de vento", na CdM.
Esta era a canção que gostavas de partilhar com a avó ...
"Gostas avó? É bonita, não é? Quem te mostra músicas bonitas, quem é?"
E aquele teu sorriso com que afagavas os olhos da tua avó.

Tal como o Miguel afaga os meus.
Apesar da saudade transparente.



Que reste-t-il de nos amours

Ce soir le vent qui frappe à ma porte
Me parle des amours mortes
Devant le feu qui s' éteint
Ce soir c'est une chanson d' automne
Dans la maison qui frissonne
Et je pense aux jours lointains

{Refrain:}
Que reste-t-il de nos amours
Que reste-t-il de ces beaux jours
Une photo, vieille photo
De ma jeunesse
Que reste-t-il des billets doux
Des mois d' avril, des rendez-vous
Un souvenir qui me poursuit
Sans cesse

Bonheur fané, cheveux au vent
Baisers volés, rêves mouvants
Que reste-t-il de tout cela
Dites-le-moi

Un petit village, un vieux clocher
Un paysage si bien caché
Et dans un nuage le cher visage
De mon passé

Les mots les mots tendres qu'on murmure
Les caresses les plus pures
Les serments au fond des bois
Les fleurs qu'on retrouve dans un livre
Dont le parfum vous enivre
Se sont envolés pourquoi?

2 comentários:

Lua disse...

Nada mais consigo dizer do que deixar um abraço...

Isabel Venâncio disse...

Olá, querida "Lua"

Não precisa de dizer muito. O abraço que manda chega-me.
Entretanto, fui vê-la no seu blog. Percebi que tem uma menina ... não é?
Com saúde, olhinhos meigos ...
O que pode querer para deixar de se sentir "triste"?
E o medo existe, mas tem razões para isso?
Fico à espera de si.
Um beijo
Isabel