14 março 2011

Rotina à janela


                      Ao abrir a janela do quarto para outras
janelas de outros quartos, ao veres a rua que desemboca
noutras ruas, e as pessoas que se cruzam, no início da
manhã, sem pensarem com quem se cruzam
em cada início de manhã, talvez te apeteça
voltar para dentro, onde ninguém te espera. 
  Mas
o dia nasceu - um outro dia, e a contagem do tempo
começou a partir do momento em que
abriste a janela, e em que todas as janelas
da rua se abriram, como a tua.
Então, resta-te
saber com quem te irás cruzar, esta manhã: se
o rosto que vais fixar, por uns instantes, retribuirá
janelas.jpg
o teu gesto;
ou se alguém, no primeiro café que
tomares, te devolverá a mesma inquietação
que saboreias, enquanto esperas que o líquido
arrefeça.
Rotina – Nuno Júdice

3 comentários:

manuela baptista disse...

abri esta janela
para outras janelas

sem saber com quem me iria cruzar
no início das manhãs
das tardes
e das noites

mas retribuo sempre o gesto
inquieto ou quieto

e encho a caneca com café acabado de fazer

um beijo, Isabel!

manuela

Branca disse...

Olá Isabel,

Vou passando e lendo, coisas lindas como esta, embora este texto nos fale de rotina, mas de forma muito singular, como Nuno Júdice sabe fazer, mas há sempre um pormenor que a pode quebrar.
Não tenho escrito muito porque não ando em fase de ser boa companhia.

Um beijo
Branca

Branca disse...

Estava convencida que já tinha comentado neste texto, provávelmente fiz alguma asneira e o comentário perdeu-se porque às vezes também me perco com o sofrimento dos filhos, é sempre o que nos devasta mais, por isso a compreendo tanto como mãe, mesmo que saiba que não é possível saber, apenas imaginar. Esta rotina de Nuno Júdice é um belíssimo exercício de reflexão sobre a rotina, para que possamos aprender a quebrá-la, pelo menos sempre que possível.

Um beijinho para si Isabel e que muitas janelas se lhe abram, todas diferentes e com uma luz maior.

Branca