13 março 2011

15 anos


Um passeio ao Alentejo.
Os amigos, os mesmos amigos de há 40 anos. Tanto tempo!! Tínhamos 15 anos, queríamos tanta coisa, aos 15 anos. Queríamos cavalgar nas nuvens. Atravessar o tempo de mãos dadas. Éramos amigos; tínhamos uns aos outros para sempre.
Passados 40 anos, temo-nos uns aos outros, para sempre. Somos diferentes, agora. Mas temo-nos para sempre; não precisamos de o confirmar por palavras.
Dispersámo-nos nos percursos que trilhámos, mas encontramo-nos sempre, num fim de semana em Viseu ou à volta de uma mesa alentejana.
E os sonhos?
Alguns continuam a sonhar; podem sonhar ... a bola de cristal assim o determinou.

E eu? Eu que era a mais sonhadora no meio deste grupo de amigos, onde eu era a única rapariga.
Fui ficando "cabeça de família".
Onde vamos?
Pergunta-se à Isabel.
Quem avisa toda a gente?
A Isabel.
Isabel, quando reunimos todo o pessoal do liceu?
Isabel ... Isabel ...
Que Isabel é esta que não reconheço?
Quando chamam por mim, com o carinho de sempre?
Isabel ... Isabel
E eu gosto tanto deles! Mas essa era a outra ...

Tinha tantos sonhos, quando tinha 15 anos!
Tinha tantos sonhos aos 30!
Sonhos a partilhar. Só assim, valem a pena. Partilha ou solidão!
Agora, vou ... quero ir ... depois regresso ansiosa ... temo-nos uns aos outros ... encontamo-nos como sempre nos encontrámos, apesar das distâncias, ... sobretudo eu tenho-os a eles ... se me têm a mim ... não sei ...
Vejo tudo como se fora envolto em neblina.

Amanhã, um destes dias, será altura de encontrar outros amigos de outras épocas; depois jantar com outros ainda. Amizades muitas! Consolidadas a partir do trabalho, dos filhos, das férias, dos amigos dos filhos ... Vou sempre, não cortei as amarras, quero ir, gosto deles ... mas a ansiedade do regresso aos espaços vazios de ti vai sobrepondo camadas de névoa, envolvendo, sempre mais, o casulo onde me encerro.
Onde me sinto protegida de mim, da minha implacável saudade.
Onde me sinto fora do alcance da "insultuosa" normalidade da vida dos outros.
Onde me posso permitir olhar os restos de mim, sem ter de desviar os olhos dos olhares doces e compreensivos dos outros.
Quem serei eu, neste agora, neste espaço ... esvaziados que foram os sonhos dos meus 15 anos?


1 comentário:

Anónimo disse...

Isabel, também tenho amigos assim, com mais de 40 anos, imagine, eu com 45...É tão bom!!!!!Aproveite!
Um beijinho