24 maio 2010

Insónias



Foto de bons tempos ... a caminho do Alentejo ... de gabardine na cabeça ... e óculos de sol!
Mais papelinhos do David ... que vou copiando ...
Não os vá eu perder.
Ou uma outra forma de disfarçar a saudade, com um sorriso!


PESTE DA INSÓNIA

1º tema 2x

Fá #m7/Fá M7 (melodia de guitarra por cima)

2º tema 4x
Lá m7 (arpeggiado) / Dó m7

Repetição

1º tema
Fá #m7/Fá M7 (melodia de guitarra por cima)

2º tema
Lá m7 (arpeggiado) / Dó m7

Final com 4 acordes
Ré 7 (transposto) / Dó m7 / Ré 7 / Dó m7

Texto em voz-off

... não sei, às vezes, quando me levanto de manhã ... é um mal-estar.
... acho que devia dormir mais, mas não consigo.
... tenho dificuldade em adormecer.
... às vezes, chego a pensar que é daquela pasta de dentes que me provoca um hálito demasiado fresco.
...vou deixar de lavar os dentes antes de ir deitar ... ou lavo-os só com água ... merda ...
... se não dormir, não ando bem durante o dia; mas se dormir demais de manhã ... passo mal o dia, na mesma.
... já tentei tanta coisa para conseguir adormecer: já foi um chá(zinho) antes antes de ir deitar; um bagacinho; já mudei de almofada sei lá quantas vezes; gastei um dinheirão em Cd´s "relaxing moments", dei um balúrdio por um colchão novo, mas continuo com a merda das insónias.
... espero nunca chegar ao ponto de achar que os comprimidos são a única solução.
... irrita-me a ideia.
... é ficar na situação de toxicodependente.
... chegar a uma hora do dia e precisar de algo para o corpo carente que lateja.
... é uma dependência e eu não gosto de dependências.
... eu nem sequer bebo café.
... que inveja que eu sinto dos outros que aterram quase imediatamente depois de sentirem o fresco dos lençóis ... foda-se, pá ...

David (o das insónias)

18 maio 2010

Mais um mês, David!

Vou tropeçando nos dias que são demasiado longos ... mesmo quando chego ao fim e reparo que o tempo afinal ... não me deu para nada!
Os projectos que, às vezes, penso poder ... projectar ... não os levo a sério. São apenas mais uma forma de me enganar.
Como se me dissesse – quando te sentires mais forte, tens esta porta aberta!
Talvez ... sim, eu sei ... quando os meus tratamentos tiverem terminado; quando a minha saúde física estiver controlada.
Finjo que penso na minha saúde, mas não penso. Ou penso que está tudo bem! Foi coisa simples na mama. Tratamentos leves ...
Eu que te vi sofrer e que tanto sofri por ver sofrer!
...
Sabes bem ... que esta dor não passa! Sei que sabes ... já sabias, antes.
E não espero que passe!
Irei ficando bem, desde que tudo esteja bem com o filho que tenho e o nosso belo Miguel!
....
Hoje, um dia 18, pude contar a minha história (que é a tua, também), a uma nova médica que me atendeu no IPO.
É belga, como o Jacques Brel.
Chama-se Natalie, como a canção do Gilbert Bécault.
(Antes, sabia esta canção de cor ... agora a minha memória atraiçoa-me! Gostava tanto dela!)
Reparou no meu processo, viu o teu "nome" e quis saber!
Foi a primeira médica a querer ouvir-me até ao fim.
A não tentar, sequer, interromper-me!
Sempre me dizem que devo seguir em frente, etc ... etc ...
Sei o discurso de cor!
Esta não se importou com as minhas lágrimas. E acho que ficou a gostar de ti!
Conversámos as duas muito tempo. Falou-me da morte da mãe e das "conversas" que mantêm, ao deitar. Falou-me dos filhos ...
As pessoas não são apenas a cicatriz que me mostram ... são também o que trazem dentro delas! A minha cicatriz está bem mais funda, ... nem sempre se vê!
E ouviu-me falar de ti, do teu irmão e do nosso rapazinho pequeno de cabelo aos caracóis.
E falei-lhe dos nossos dias 18 que se vão sucedendo lentamente. Com todos os detalhes, vozes, gestos, ... ainda, bem definidos na minha memória!
.....
No fim, ela tinha lágrimas nos olhos.
Disse-me que devia ajudar outras mães ... embora eu ache que nenhuma mãe a quem morreu um filho pode ser ajudada.
"Mostre-lhes que se pode falar do filho que morreu. Não é vergonha chorar!"
...
E quer conhecer-te, através do livro que estou quase a terminar ... depois de inúmeras vezes terminado.
Prometi-lhe!
Mas ... tem demorado ...
Sabes bem que esse livro tem algumas pontas soltas mais tristes e dolorosas que ainda não sei como atar!!
É nele que tenho andado absorvida ... em vez de vir aqui!



Un jour à Paris!