19 dezembro 2009

Certas formas de magia


"Unreal" de Bernardo Sassetti /Luz de David Sobral / Foto de Susana Neves

Por vezes, só o silêncio cria espaço...

Não o tenho em mim para desabafar esta ansiedade que não sei se é só saudade, que não sei se é só dor, que não sei se é ainda, e sempre, o mesmo medo que se instalou e não passa.

Apesar dos olhos doces e do sorriso radiante do meu neto…

Não há tempo em mim que não me arraste para um outro tempo em que me lembro de só sentir a força de um arrastar pesado e lento para não sei que outro tempo sem contornos, desconhecido e medonho.
E do resistir sempre.
Do não querer que o tempo passasse.
Não dessa forma.
Não daquela forma, não naquela busca vã, quase inútil, de não sei que felicidade que nos fora, definitivamente, negada.

E, no entanto, agora, não saberia viver sem os olhos doces e o sorriso radiante do meu neto …

Sofro porque … sofro. Simplesmente. Nunca mais poderei refugiar-me naquela forma de infinito que sempre pedimos.
Quando a cegueira da angústia e da revolta nos assaltam.
Chegamos (que ilusão!) a acreditar que sim.
Sabendo que não.
Já não.

E, no entanto, os olhos doces e o sorriso radiante do meu neto embalam-me numa certa forma de infinito …

Apesar do meu caminho pejado de lajes levantadas do passado.
Apesar das memórias inscritas, com letras das saudades do David, nas paredes lisas dos dias.

Estranho … este meu mundo, cá dentro!
Tão estranho!
Não sei como vivo sem um filho.
Não sei como viveria sem a magia dos olhos doces e sorriso radiante meu neto!


Obrigada, à Manuela Baptista, por aquela estrela chamada David.

Histórias com Mar ao Fundo

5 comentários:

Jaime Latino Ferreira disse...

E NO ENTANTO


E no entanto
dos olhos e sorriso de meu neto
um infinito esperanto
embala-me a mim
neste meu tecto

E no entanto
ao olhar para o Miguel
vejo quanto mais posso esperar
deste que também é o meu papel
que o embala para que eu possa amar


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Dezembro de 2009

manuela baptista disse...

O amor, Isabel

é um lugar estranho.

Eu é que agradeço
o espaço do seu silêncio, que me permite criar.

Um beijo

Manuela

António disse...

O Infinito costuma aparecer inesperadamente...

Pé de Salsa disse...

Isabel,

Deixo-lhe aqui um beijinho e o desejo de que cada vez mais, consiga sorrir e espalhar muita alegria, junto de quem gosta.

Isa

Branca disse...

Este é um texto de infinito amor de um mãe e uma avó e o amor é sempre redentor.
Adorei lê-la, adorei saber mais uma vez da magia que uma criança traz à nossa vida, neste caso à sua vida Isabel.
Fico feliz com isso.
Beijinho grande para os seus meninos, todos.
Branca