25 novembro 2009

O silêncio



Silêncio não é esquecimento.
Silêncio não é serenidade.
Silênio, este meu silêncio significa uma tristeza tão excessivamente pesada que não há palavras que a tornem mais leve.
Tenho ocasiões assim; em que tudo me parece impenetrável, incompreensível.
Tudo tão lento, tudo tão imenso, tudo tão intenso que não há sono que me vença.
E as noites escorrem por entre acordares entrecortados de sonhos em que nada é o que ficou; só o que foi.
E não há pastilhas, as mesmas de antes ou as novas, que me façam adormecer.
E acordo exausta, de olhos molhados, logo pela manhã …
Nos meus sonhos, sempre iguais, o David continua vivo, doente, muito doente e eu luto, numa luta que se repete e recomeça sempre e sempre …
E sei que ele vai morrer.
Tal como D. Quixote, luto contra moinhos, conta as telas de moinhos ... não sopradas pelo vento.
São gestos de dizer adeus.


4 comentários:

Ana Cristina disse...

1 beijinho.

Nini

Jaime Latino Ferreira disse...

ISABEL VENÂNCIO


Querida Amiga,

Diga adeus
a Deus
e fique com o David para sempre
e mesmo se para sempre for dizer adeus


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Novembro de 2009

Silenciosamente ouvindo... disse...

Reli várias vezes o que escreveu Jaime Latino Ferreira para tentar
compreender exactamente o que ele
quer dizer: lamento muito que se sinta assim, lamento muito que a
dor não esteja mais atenuada...
Mas veja como se preocupa em explicar o seu silêncio, quantas
outras pessoas "que dizem amar muito outra pessoa, durante anos
e anos, têm com ela uma vivência
em que partilham o corpo e a alma"
e de um momento para o outro dizem
"já não quero mais nada contigo" e
deixam de querer saber da pessoa a
quem tanto diziam amar...e nunca
mais se preocupam em dar uma palavra, em saber como a outra pessoa se sente, e no entanto consideram que têm sensibilidade e
bom comportamento social.
Você com a sua imensa dor, ainda
tem a preocupação "de dizer algo"
e isso é demonstrativo do seu
humanismo.
Gostaria, repito, MUITO que a sua
dor já estivesse mais atenuada,
mas como diz ainda não inventaram
a pastilha que NOS FAÇA ESQUECER
TOTALMENTE...ou que ANULE POR
COMPLETO A DOR. Mas penso, e já
lhe disse isto uma vez, que o DAVID
não gosta de a ver tão triste.
Um grande beijinho

manuela baptista disse...

Vir aqui, Isabel

e permanecer em silêncio,
também é um gesto de dizer adeus.

Por isso falo, porque não é a minha vez, mas é a sua vez e é uma vez que também me dói.

Os nossos são apenas gestos, projectos de cumplicidade consigo que sem sabermos, a podem magoar quando queremos aliviar.

É assim, quando possuímos palavras sem rosto, escritos, neste lugar que ninguém sabe até onde irá.

Um dia será precisa uma voz para acreditarmos que existimos em cada um dos lados.

Aqui deste lado

neste gesto vago, mas presente

um abraço

Manuela