04 setembro 2009

Moledo



Agosto.
Moledo em Agosto.
Calor, barracas sacudidas pelo vento norte, algas espalhadas pela areia, gaivotas no areal ao entardecer, cheiro a maresia, o forte ao longe e os amigos de sempre.
Findou.
Não da maneira como antes findava.
Com um jantar ruidoso de despedidas "Até breve, vemo-nos no Porto!"
Não com aquela já quase saudade do meu jardim ainda antes de partir; dos meus cinco pinheiros; do meu carvalho a crescer; dos poucos mas saborosos frutos que as minhas árvores regateiam e que eu recolho com todos os cuidados e vou mostrar cheia de orgulho; do sol luminoso da manhã no pátio; das mãos na terra; dos foguetes das festas, ao longe; dos jogos de sueca e de damas chinesas, intervalados de cantorias desafinadas; do jantar anual no Ancoradouro do Alfredo; da chuva de estrelas das Perseides; da sensação de que ali, na segurança da rotina dos dias e noites de Verão, estávamos protegidos e nada de mal nos podia acontecer...
E, no entanto, houve um Agosto sem Moledo que quebrou todos os encantos.
Deixei Moledo em Agosto.
Não da maneira como antes deixava.

Voltarei...; foi ali que deixei o David.
As luzes do David iluminam a noite, na brancura das paredes.
E volto sempre.
Sei que todos os encantos podem ser, um dia, quebrados.



O meu jardim

O meu jardim de sons cresce
Cresce porque eu ali estou
E por todo o meu amor que lhe dou
Não pelas coisas que tu dás,
Coisas sem valor
Coisas que eu jamais darei.
E cresce o meu jardim de sons
Pela mão que sobre ele pousei
E sabendo do amor que lhe dei...

2 comentários:

Jaime Latino Ferreira disse...

JARDIM DE SONS


Este é o meu jardim de sons
sons que não se ouvem
mas que neles desabrocham
jardim sem fim
perpétuo
que subsistirá
mesmo depois de os encantos
serem quebrados

E quando os encantos se quebrarem
saberei que permanecem
em murmúrios
segredados nesta escrita
e crescerão
na inaudita força
da razão


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Setembro de 2009

Anónimo disse...

Isabel, já tínhamos saudades...
Um beijinho,
MM