16 agosto 2009

Isabel Alves Costa



Tenho tantas saudades do meu filho!!!
Sinto-as ao acordar e, por sobre o ombro, me acompanham até a lua desaparecer para que o sol regresse.
Já não penso.
Porque sinto cada momento como mais um momento em que me sinto só.
Este sentir apoderou-se do pensar.
Vive comigo; sou eu... lá dentro.
Não se vê de fora.
Não se vê no reflexo que vejo de mim, no espelho.


A cada passo, recordo Barcelona.
Persegue-me aquele inferno que lá passámos, em Agosto, há 2 anos.
Despedimo-nos, então, de Moledo, na esperança de voltarmos.
Todos!
Nunca regressámos.
O David não regressou.
Eu não regressei.
Não se regressa quando se leva um filho pela mão até ao fim do mundo.
Porque a morte é, de facto, o fim do mundo!

E, hoje, morreu a Isabel Alves Costa.
Foi professora e amiga do David, que tinha grande consideração por ela.
Foi ao funeral do David; deu-me um abraço e falou-me dos muitos sonhos do meu filho e do desejo de, um dia, concretizar alguns.
O Porto deve-lhe todo o amor que tinha à Cultura.
A notícia da morte dela ensombrou-me o coração.
A Olga sentiu a morte dela; era amiga do David.
O David ficaria imensamente triste.
Eu fiquei triste.
Eu e a Olga temos saudades do David.
Da tristeza que o David sentiria com a perda desta amiga que ficou e, agora, o acompanhou.

Talvez exista um lugar em forma de palco e luzes, onde se encontrem, e daí nos vejam, protegidos por fios de sorrisos e dores que se entrelacem; vindos do passado e feitos de lágrimas.

Adeus, Isabel (amiga do David)

07 agosto 2009

Gestos



Moledo em Agosto era algo que já não é e não volta a ser.
Mesmo que eu espere, encostada ao muro, que a lua cheia acabe de subir do lado de lá do monte.
Mesmo que os pescadores nocturnos continuem, no paredão, a preparar os iscos, antes avançarem pelo areal adentro.
Mesmo que se aviste, ao fundo, o Monte de Santa Tecla, envolto em neblina.
Mesmo que as mesmas famílias ou grupos de sempre venham dar o mesmo passeio de sempre, ao longo do paredão, quer a noite esteja amena ou varrida pela nortada.
Mesmo que a música de fundo, envolta nas paredes tricolores do P'ra Lá Caminha, nos embale...
Mesmo que as garrafas vazias de cerveja continuem a espalhar-se, pela noite dentro, nos muros do paredão, em frente ao Palma...vestígios de grupos de jovens.
Mesmo que as manhãs acordem, mornas, cerradas de neblina... ou claras e ventosas.
Mesmo que vigie, folha a folha, as minhas árvores...e conte os frutos pelos dedos.
Mesmo que regue os pátios, já regados pela chuva...
Mesmo que veja um pirilampo, ao fundo, por entre a folhagem.
Mesmo que os grilos cantem...
Mesmo que ouça o marulhar das ondas, ao longe...
Ou um comboio que passa...
Mesmo que ...
Os gestos permaneçam ... quase iguais.
Não passam de gestos.

Todas as manhãs, atravesso o areal e molho os pés, junto da tua rocha.
Molho os pés.
Este gesto é mais do que um gesto.

Amanhã, o meu neto faz um ano e terá festa.
E o sorriso dele e o brilho dos olhitos negros vão iluminar o dia.

Sonhar

Quero-te dizer
Que quero viver,
Viver até morrer
Mas sem nunca
Deixar de o querer,
Abre-te comigo
Diz-me as palavras
Que eu quero ouvir,
Ouvir para me deitar
E sonhar e dormir.

David (1995)