31 maio 2009

Duermen en mi jardin




Noite quase fresca de quase Junho.
Ainda algum calor.
Cigarras e grilos.
Céu sem lua. Céu límpido.
Um cão que ladra ao longe.
Calor com brisa de vento.
Janelas abertas e cortinas que esvoaçam.
Gelo num copo de água.
O comboio que atravessa a ponte, compassadamente.
Compay Segundo.
Luzes a meia luz.
Música de fundo.
As mangas dele arregaçadas.
Finalmente a frescura da noite.
Ambientes do David.
Pela noite fresca dentro.
Ambientes nossos, antigos, que trazem saudades.
Música, sempre.
Buena Vista Social Club.
Ouvido nestas noites lentas... de saudade
Que me esvaziam pela noite dentro.
Já de frescura.
Ainda de silêncio...

Silêncio



Silencio

Composição: Rafael Hernandez / Ibrahim Ferrer

Duermen en mi jardin
las blancas azucenas, los nardos y las rosas,
Mi alma muy triste y pesarosa
a las flores quiere ocultar su amargo dolor.

Yo no quiero que las flores sepan
los tormentos que me da la vida.
Si supieran lo que estoy sufriendo
por mis penas llorarían también.

Silencio, que están durmiendo
los nardos y las azucenas.
No quiero que sepan mis penas
porque si me ven llorando morirán.

29 maio 2009

Dias vazios




Como designarei estes dias em que estou como se não estivesse; em que ando como se parasse; em que falo e sorrio como se calasse?
Dias de vazio? Em que me sinto suspensa pelo nada...
Embora a mágoa me invada, sem que nada aconteça de diferente do que costuma acontecer.
Eu sei. É a saudade.
Apenas e sempre a saudade.
Mais, nos dias calmos.
É o saber que não é possível recuar.
É o saber que nunca mais...
Que revolta, que dor!!
Nunca mais...
É o quarto arrumado e já quase sem cheiro...
Nunca mais.
Finjamos que sim e...

“ Vamos todos ao Cinema “
Não sei se sabem, ou melhor, vamos tomar de princípio que se esqueceram, que existem artistas que criam o que querem sem terem, depois, de se arrastar por aí pelas ruas da cidade à procura de outro sustento.

No Cinema, o caso é igual. Existem filmes óptimos, que para serem óptimos, não necessitam de aparecer nas salas AMC do Arrábida Shopping. Existem até clubes de Cinema em Portugal que exercem essa actividade sócio-psico-neuro-cultural sem qualquer intenção de com isso lucrar, dinheiramente falando. Têm sim a intenção de nos pôr a ver esses filmes. Isso mesmo, é uma ditadura cultural! São filmes que “eles” acham que talvez nos faça bem à saúde ver. Se calhar até
nos faria ainda melhor, nem sequer sabermos o que vamos ver.
É como uma Happy Meal com uma surpresa lá dentro.

Agora vamos ao que interessa, se querem comprar isto que estamos a vender e querem pertencer a um clube de Cinema, o Cineclube do Norte(pois é, do Norte inteirinho) é um deles. As cotas dos sócios são irrisórias quando comparadas com os preços dos outros Shoppings (leia-se cinemas).

Os interessados deverão contactar o aluno David Sobral, do 4ºano de Luz e Som (teatro).

Aceitamos cartão VISA, dinheiro, cheques, cromos dos Pokémons, etc…
Fazemos descontos a sócios e adeptos do Futebol Clube do Porto.

P.S.: Não pagamos indemnizações às pessoas que pensavam que isto era um clube de filmes picantes.

28 maio 2009

Tenho sorte!



As histórias que a Manuela inventa são sempre balsâmicas para mim.
Leio-as e releio-as, dentro ou fora da minha bola de vidro.
Percebo que não preciso de me esconder tanto, atrás dos vidros, porque há quem lá entre com pezinhos de algodão, me diga "Olá! Não quero perturbar, mas estou aqui! Vou contar-lhe uma história".


Tenho a sorte de ter amigos assim, ... que me visitam nesta casa, feita de paredes de vidro e de lágrimas transparentes, e nas outras de pedra e cal.
Não me esqueço de sair e de olhar em volta.
Estão lá todos; a começar pelo meu maravilhoso neto, de olhinhos negros e curiosos e de sorriso sempre pronto.
Hei-de contar-lhe as histórias que me contam.
Guardo na minha caixinha do David, as palavras de apoio que me dão, nos dias mais tristes.
Obrigada, Manuela.
Obrigada, Jaime.
Obrigada, António.
Obrigada, MM
Obrigada, Branca
Obrigada, Paula e Marina
Obrigada...

25 maio 2009

Dualidades




Tenho a sensação de estar dentro de um compartimento isolado por vidros.
Vejo tudo e saio, de vez em quando, por um bocadinho.
É como se vivesse uma das tais segundas vidas virtuais. Faço o indispensável para manter o socialmente indispensável e, para isso, basta uma parte de mim.
Embora pareça eu na totalidade. Até me dizem que estou óptima, melhor que nunca, mais nova...
Talvez pareça.
A mim parece-me que não tenho idade e, dentro desta caixa de vidro que criei ao meu redor e onde, também, às vezes, habito, ninguém entra.
Ninguém sabe o que se passa ou o que penso, quando pensam que o meu pensamento acompanha o pensamento dos demais.
Tornou-se difícil não me ausentar, em pensamento, para outros "sentires", outros horizontes, outras estradas percorridas...
Não me sinto prisioneira, neste espaço envidraçado.
A falta de liberdade, sinto-a, cá fora, onde se torna imperioso que mostre "boa cara", que preste atenção e responda, que reaja, que sorria, que ouça, que esteja a par, que me envolva.
A pressão, mesmo que inconscientemente e "para meu bem", é forte.
Perco-me no meio das meadas das conversas.
E canso-me facilmente.

Ter saudades não me cansa; é o meu estado natural.
Não me cansa a tristeza; acho-a natural, logo ao acordar.
É o que se espera de mãe a quem falta um filho ...
Chorar um pouco, sem que algo aconteça.
Acontecer apenas chorar.
Sem que isso perturbe o andar, naturalmente, por entre os outros.
Estar bem é estar assim; ser como se está.
Estar só, mesmo acompanhada; passar despercebida no meio da gente; calar quando não me apetece falar e só o silêncio apetece; esperar que chegue, depressa, a noite e que o dia seguinte demore a chegar e, quando chegar, logo se verá; fazer tudo um pouco como quem paira ... um pouco lá, embora esteja aqui, do lado de cá.
É ser assim, poder estar cá e lá, dois lugares distantes um do outro.
Este, onde me encontram e me tocam e onde aparento ser esta, aqui, que sou - real.
Esse outro, onde estás e onde estou, de forma virtual, mas não menos real.
Percebe-se esta dualidade?
Eu sim; dos outros, não sei

São coisas de lá!

Steve Reich

Iluminação do Casal Shumann


David na Amazon

O que ouvir em certas ocasiões

16 maio 2009

Engano



Ontem passou mais um 18 de 19 meses sobre a tua morte.
E eu continuo a rodar à minha volta e há dias em que a tristeza da saudade se torna insuportável.
Basta-me entrar no carro, para, enfim, chorar sem ninguém a olhar.
Basta uma música.
As imagens duma cama branca, num quarto branco envolto em luz de um dia claro...são tão, tão nítidas.
É tão perturbante o contraste entre a claridade do dia, lá fora, e poço fundo escuro, cá dentro de mim, nesse dia.
Como se, de tudo o que se passou, se tivessem fixado estas, exactamente e apenas estas, a preto e branco, e indeléveis, na minha retina.

Apesar de já saber como ia ser, não estava preparada.
Pensava que estava porque me foram dizendo e repetindo ... e eu acenando que sim, que sim...que sabia que ia ser assim, talvez hoje; talvez daqui a pouco!
Mas depois, NÃO!
Puro engano.
Aquela tarde estava errada; não era dali; era dum outro tempo vago e alheio a qualquer sentir.
Que engano amargo.
Não estava preparada para continuar a caminhar, sem ti.
A verdade é que ainda não estou.
Mas caminho...
Tu vens comigo, neste meu caminhar, levo sons teus, de jovem. De muito jovem...
Terias 17/19 anos...



Bernardo Sassetti



Olá, caros ouvintes, eu chamo-me David Sobral.
Sejam bem vindos a mais um jazz faz tarde.
É com prazer que anuncio que esta é a primeira semana dedicada exclusivamente ao jazz português.

Desde o início da rubrica que fomos convidando músicos portugueses mas esta semana é-lhes dedicada, única e exclusivamente.

Hoje vamos falar sobre um pianista nascido em Lisboa no ano de 1970; chama-se Bernardo Sassetti.

Bernardo começou a estudar piano clássico aos 9 anos, com Maria Fernanda Costa, e, a partir daí, tem-se dedicado apenas ao jazz. Aos 18 anos começou a tocar profissionalmente com grupos portugueses.

Desde então, Sassetti já tocou um pouco por todo o mundo com outros músicos bem conhecidos como são Paquito D’Rivera, Freddie Hubbard, Benny Golson, entre outros...

Além do jazz, Bernardo também compõe música para filmes.
O tema que vamos escutar hoje chama-se “Mali M’Bule Baba” e faz parte do disco “Passagem” do saxofonista Carlos Martins.
Esta não será a primeira e última vez que Bernardo vem ao jazz faz tarde, ... fiquem atentos. Até logo...

Luz



Moledo
Foi aqui que li o que a Olga diz do David.
Conheceu-o durante tão pouco tempo e, no entanto, tão bem.
Sei que é verdade o que diz e faz - que a forma mais justa e certa de nos lembrarmos do David é aproveitar cada minuto, cada bocadinho de tempo que nos é dado.
Foi essa a mensagem que o meu filho deixou, na forma tão luminosa como viveu o que lhe restou para viver!
A minha admiração por ele foi aumentando, a par do tempo que se esgotava e nos restava.
E ele soube-o sempre; que eu admirava a coragem dele; que todos o admirávamos enquanto assistíamos, pequeninos na nossa dor, ao agigantar desse David perante o seu Golias.

Mas eu não tenho essa grandeza de que a Olga fala.
É ela que está certa, na justiça que lhe faz.
Talvez um dia...
Vou devagarinho.
Ou talvez não vá, nunca...
A saudade é imensa e sobrepõe-se a tudo (não a todos...), quase sempre.
Anda aqui, encostadinha a mim.
Não sei.

Sei que tenho um filho que é pai grande (como são sempre os pais...) de uma criança de olhitos alegres, inteligentes e marotos e de um sorriso aberto.
Acho que, de certa forma, encontrei uma forma de viver paralela à da Olga e, de certa forma, intensamente.
O olhar para o meu neto, que me sorri, sempre que lhe sorrio.
Tem um olhar luminoso.
O meu neto.

Um grão de areia

14 maio 2009

Um sorriso manso.



Às vezes, como hoje, acordo na urgência de ter que levar o David ao hospital, para continuarmos o tratamento.
Às vezes, pesa-me o que vejo à minha volta.
Hoje, morreu a mãe de um miúdo da minha escola,
a quem, por acaso,dou aulas de apoio.
Não é bom aluno,
portanto...

Não sabia que tinha a mãe doente;
não sabia que a mãe era uma jovem de 34 anos;
não sabia que esta vivia com os pais,
avós deste miúdo de 13 ou 14 anos...
Esta mãe teve o filho, ainda jovem como eu...
talvez aos 20 anos.

Às vezes, pesa o que vejo à minha volta.
Pensei na dor destes avós/pais que assistem à partida da filha;
no desnorteio deste adolescente que se faz forte,
fazendo de conta que não quer saber dos estudos;
na saudade que aquela mãe terá, já, sentido do filho,
ainda antes de morrer...

E pensei na forma, mais ou menos indiferente,
com que sempre olhei para aquele miúdo com quem contacto 45 minutos por semana,
como apenas mais um adolescente que não gosta da escola,
que não tem "pachorra" para aturar esta professora que lhe quer dar mais do mesmo...
Que mundo estranho existirá no pensamento deste pequeno/grande miúdo???
Não voltarei a olhá-lo da mesma forma;
ele encerra dramas familiares terríveis e dolorosos...
Que reconheço à distância, em caras e olhares de que imagino os contornos
Às vezes, pesa-me o que vejo à minha volta.
E regresso cansada...

E choro, ao ler
as palavras tão compreensivas,
tão ternas,
tão solidárias
do Jaime,
da Manuela,
do António...
como, hoje,
há bocadinho.

Às vezes, na sala, encosto-me ao móvel, junto à fotografia minha e do David.
Olho-a longamente; procuro vestígios de mim.
Mas não os vejo.
A que me observa do lado de lá da fotografia não reconhece esta
que a observa, daqui.
Não acredita, ainda, que seja possível que aquela cena não se repita.
Permanece, ali,
numa esperança intocável...
Com a cabeça encostada no ombro do filho,
sorriem os dois.
Um sorriso manso.

13 maio 2009

dia a dia



De manhã, vem o acordar apressado, de sonos profundos,
quase sempre sem sonhos.
Com o avançar da manhã, surgem imagens,
ainda lentas e melancólicas.
Como se viessem de longe, num passo arrastado.
Mais tarde, as nuvens do passado, agora, já nítido e presente,
instalam-se, num rodopiar de tristezas soltas.
E a tristeza vai, com o escurecer do poente ou à luz dos candeeiros da rua,
ficando cada vez
mais triste.
Cada vez mais sonolenta
de saudade, que não se esgota.
Cada vez mais ansiosa
pela invisibilidade
e murmúrios da noite.
Que escorrega para novo acordar estremunhado...
mas não me prende.




Bobby Hutcherson

Olá caros ouvintes esta semana o instrumento em destaque é o vibrafone e o tocador deste brilhante instrumento chama-se Bobby Hutcherson.

Bobby também toca marimba que é da mesma familia do vibrafone. Bobby começou por ser um entusiasta do free-jazz mas depois tornou-se num simpático estilista inovador do hard-bop, estilo subsequente do be-bop.

Bobby tocou com muitos músicos ao longo da sua carreira e tem um disco dele que recomendo e que se chama simplesmente “Jazz”.

É um tema deste disco que hoje vamos escutar, ouçam com cuidado e até logo que...

07 maio 2009

Era uma vez



Gostaria de poder corresponder aos apelos da Manuela, naqueles textos tão sensíveis que me escreve e que poderiam começar por "Era uma vez...", como na "História para enganar os dias" que é tão bonita e li aos meus alunos, sem pedir licença:-(..
Eu leio-os; releio-os e penso "Tem razão, devia ir indo devagarinho..."
Depois...espero. Talvez, amanhã.
Amanhã?
Mas amanhã é tão longe.
Tão distante do meu sentir agora.
O amanhã está-me interdito.
Diz-me que espere, até estar quase a chegar.
Perguntarão: "Mas, interdito por quem? Interdito, porquê?"
E eu não saberei responder.
É apenas isso... interdito...
Por mim própria.
Porque não sou capaz de pensar, seriamente, além.
Eu que sempre fui de planos e projectos e propostas e perguntas e programações e previsões...
Não planeio o amanhã.
O amanhã rejeita-me, diariamente.
Agora, não é ainda amanhã e faço sem custo o que me dá prazer e me serena a saudade - mostrar coisas do David.


Chet Baker


Olá, caros ouvintes!
Hoje, vamos falar sobre um trompetista que se chama Chet Baker e que foi um dos criadores e impulsionadores do estilo Cool. Já aqui falámos em rubricas passadas sobre este estilo e dissemos que se caracterizava pelos solos e sons mais calmos e ao mesmo tempo com mais textura sonora.

Chet Baker não foi famoso apenas por causa do trompete, mas também porque cantava e porque era uma pessoa muito dada à vida social. Apesar da sua fama e de ser uma pessoa bem parecida, a sua vida ficou manchada devido à sua dependência de drogas duras.

A vida deste senhor não foi fácil. O pai era guitarrista e teve de abandonar a actividade devido à grande depressão económica que atingiu os Estados Unidos, no final dos anos vinte.

Baker cantou em coros de igrejas e começou, desde cedo, a sua formação musical. No entanto, durante o resto da sua vida tocou quase sempre de ouvido sem precisar de partituras nem de ler música.

Até amanhã e oiçam o Chet Baker

Jazz Faz Tarde
(David Sobral)

04 maio 2009

Pensar



Dizer o quê, se tudo já foi dito?
E, no entanto, o meu sofrer parece-me diferente, todos os dias.
Chega a parecer-me diferente, da manhã para o fim do dia.
Por isso...
Tenho dias tristes e dias menos triste.
Eu, ... não os dias!
Aos dias, pouco lhes interessa.
Apenas chegam, param e passam.
Uns mais lentos do que outros.
Dizem-me que não pense...

De que me adiantaria não pensar?
E como se faz?
E não pensaria o quê?
Tudo é o que é?
Diariamente, quando o dia chega finalmente ao seu termo e chega a hora de fechar o palco, até aí, inundado de luz,...gostaria de pensar que não há amanhã.
Iria adormecer...
E ficava assim, suspensa a noite.
Dizem-me que não devo pensar...
Como se faz?
P'ra não chorar?


Uma frase
"Estamos sós com tudo o que amamos." Novalis

Um programa

Bjork




Olá caros ouvintes, bem vindos a mais um jazz faz tarde...

Hoje vamos falar sobre uma pessoa que todos conhecem bastante bem mas duvido que conheçam assim tão bem esta faceta dela que aqui vou mostrar hoje.

Falo da cantora islandesa Bjork. Já todos sabemos das capacidades desta menina e não é de supreender que ela tenha um disco composto apenas de temas de jazz. É verdade. É sobre esse disco que vou falar hoje.

Bjork canta acompanhada por um trio de jazz. Este disco chama-se “Gling-Gló” e é bastante bom, não sei o significado do título mas asseguro que o disco é bom.

Bjork começou a cantar muito cedo e aos 11 anos obteve um sucesso enorme no seu país graças a um disco de versões de outros grupos como por exemplo dos Beatles.

Espero que gostem deste tema, até logo que ...
Jazz Faz Tarde

(David Sobral)