24 abril 2009



Apesar da luminosidade dos dias, sinto que tacteio no escuro do meu percurso.
Percurso que não traço; percorro-o, apenas, à medida que surge espaço para dar mais um passo.
Procuro a serenidade amargurada de não fazer projectos,
de nada buscar com ansiedade;
sem o receio de que nada se concretize.
É a minha forma de fugir dos medos;
de me cobrir de escudos que me protejam.
Para viver da forma possível.
Neste tempo pesado de tanto Abril;
Abril do nascimento do David;
Abril do Zeca na Casa da Música,
Abril dos cravos junto do David;
Abril que não será dos 31 anos do David;
um Abril a 27 ... vazio.
Demasiado Abril.
Demasiados cravos vermelhos da cor do sangue;
de sabor amargo de saudade.



Quando estou só reconheço
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.

E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.

Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por cousa esquecida.

Fernando Pessoa




2 comentários:

manuela baptista disse...

Tanto Abril

Tanto Abril
neste mar de Abril
tanto mar
no destino hostil
trinco os cravos
para lhes saber a doçura
e não sei
o sangue dos cravos
o mel dos favos
desenho um percurso
a lápis de cera
com medo dos medos
da cera e dos lápis
que pena dos cravos
que pena que pena

Manuela Baptista
Estoril,24 de Abril de 2009

jaime latino ferreira disse...

PASSO POR MIM


Passo por mim
Como por coisa esquecida
Que não sou
Porque se escrita a coisa
É erguida
Sem estar tão pouco
Dada como perdida

Passo pelos outros
Que se alheados julgo
Desde o começo
Sou eu que penso estarem do avesso
Mas que ao se cruzarem comigo
Deixam aroma intenso

Passa trespassada a solidão
Onde livre penso ficarão
Os outros e eu próprio
Sem perdão
Sabendo que do nada
A existência
Se erguerá o digo
Em permanência


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Abril de 2009