25 abril 2009

Abril 74



No 25 de Abril de 1974, tinha 18 anos.
Um pouco fútil, penso eu, olhando, daqui, a Isabel desse tempo.
Brincalhona, com muitos amigos e amigos dos meus jantares em casa de outros amigos, boa aluna no curso de Filologia Românica ... estabelecida com namorado ... coisas vulgares.
Era uma rapariguinha pouco informada, do ponto de vista político.
Aqui e ali, participava em algumas conversas mais secretas; já assistira à entrada da polícia na nossa faculdade e tentara fazer frente; ouvia canções do Zeca... pouco mais.
Mas acordei.
E foi bonito esse acordar; estava latente na minha maneira de ser, nos meus genes...
Acordei para Abril; para necessidade da luta contra a injustiça; para urgência da solidariedade; para a defesa sem tréguas dos direitos humanos.

Acordei.
Não voltei a adormecer.
Tinha 18 anos.
Foi bom ter 18 anos, no 25 de Abril.
Renasci diferente e melhor.

Acho que seria,
hoje,
uma cinquentona balofa e estúpida,
a gostar só de música pimba,
a ir à revista, de toilette e sapatos de tacão,
a passar horas a tratar das unhas na cabeleireira,
a ler a Holla, religiosamente, todas as semanas,
a seguir todas as telenovelas,
a ler apenas Paulo Coelho e
Margarida Rebelo Pinto
a ouvir a TVI, de manhã à noite
e a pensar sempre em tom rosa bebé

.... se não tivesse 18 anos no 25 de Abril!

Mas acordei.
Acordei para um sonho que é ter uma filosofia de vida que me ponha de bem comigo e com os meus ideais de justiça, liberdade e fraternidade.
Posso não ser activista ou militante de partidos políticos, mas vivo e tento actuar em conformidade com esse SONHO.

Pode a minha vida ser a tragédia em que se tornou,
com a morte do David, nascido em Abril.
Esse sonho antigo chama-se, ainda assim, Abril.
Com um sorriso carinhoso e cansado ...
mas sério!


Bandiera rossa Hippo by fabiolino

9 comentários:

paula machado disse...

Olá Isabel

tenho andado um pouco afastada de tudo
mas hoje não sei porquê apeteceu-me vir aqui e deixar-lhe um beijinho

um bom domingo

beijinhos de Luz e do tamnho do Mundo

jaime latino ferreira disse...

SÓ ME FALTAVAM ...!


Já só me faltavam hipopótamos e cãezinhos convertidos ao marxismo e de bandeiras vermelhas no ar ...!

Isabel, será que o David o previu!?


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Abril de 2009

Anónimo disse...

Olá, Isabel

Sabia que é uma verdadeira caixinha de surpresas?
Boas e interessantes.
Cada vez admiro mais a sua personalidade.
Tem-me ajudado a rever certas coisas na forma de me relacionar com os meus filhos.
Olho mais para eles; sorrio-lhes mais. estou mais atenta às pequeninas coisas do dia a dia.
Tem sido uma inspiração para mim, também mãe.
Vir ao seu blog já se tornou um hábito, apesar da tristeza que coabita consigo nauqela casa.
É uma tristeza suave, umas vezes; revoltada, outras.
Haverá forma mais natural e vivida de fazer o luto pelo filho?
Eu admiro-a e agradeço-lhe os textos que escreve.
E aos seus colaboradores Manuela e Jaime também.
Um beijo
Luciana

Anónimo disse...

Isabel
Mais uma faceta engraçada, a sua.
À medida que se vai desvendando, maior consideração vou tendo por si e pela sua coragem.
Não admira que o David tivesse tanto orgulho nessa mãe doce, revolucionária e traquina?
Tem-me sido muito útil.
Um abraço.
E não tema cansar os seus leitores.
Paula Martins

Anónimo disse...

Ó, jaime
Então os hipopótamos e os cãezinhos não podem saltar lá dos habitats deles e vir dar uma ajuda a este país tão cinzento?
Sempre trazem algum colorido a este nosso dia a dia...
Obrigada, Jaime, por se manter fiel a esta casa, com textos sempre interessantes e oportunos. Foi daqui que conheci o seu blog e as suas palavras cantadas.
Obrigada, Isabel, por si, pela sua saudade, pela beleza ingénua mas forte dos seus textos.
Não desista de nós; precisamos de si e da sua forma invulgar mas equilibrada de ver a vida, no que ela tem de bom e de trágico.
Um grande abraço.
João Branco

Jaime Latino Ferreira disse...

PRONTO, PRONTO ...!


João Branco,

Não queria melindrá-lo, asseguro-lhe!

Nem tenho nada contra os hipopótamos nem contra os cãezinhos, nem contra o colorido todo, nem, imagine-se (!), contra as bandeirinhas, nem contra Si, nem ... nem ...!

E ainda por cima manda-me piropos, obrigado!


Luciana,

A Si também, Lhe agradeço e a Manuela associa-se e todos nos associamos também às Suas e às palavras do João!

Pronto, pronto ...!

( Está melhor assim!? )


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Abril de 2009

Anónimo disse...

Caro Jaime
Agradeço a simpatia.
Aqui vai uma receita à moda da "casa da venância" - Vestirmo-nos de colorido, juntarmos um q.b. de saudade do David, música à descrição (uma ária da Tosca, dois acordes de guitarra portuguesa, três dedilhadas de saxofone), um poema doce da Manuela,um sorriso do Miguel, o seu piano e algumas palavras cantadas do Jaime. Misturar e envolver bem com uma espátula de amizade. Vai ao forno nos ideais de Abril.
Serve-se na púcara da Liberdade.
João

jaime latino ferreira disse...

JOÃO BRANCO


Tirando o facto de não poder ter saudades do David a não ser pelo que ele representa de Futuro semeado e que Sua mãe, incansável, connosco partilha, uma vez que não o conheci pessoalmente,
saiba que me entopiu!

Emudeceu mesmo!

Um grande e auspicioso abraço da Fornada que nos sugere.

Bem haja


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Abril de 2009

Branca disse...

Adorei este post e a troca de impressões que se seguiram, que pena não ter entrado mais cedo.
Passei por cá, tenho passado por todos os posts, mas só hoje os pude ler com mais atenção.
Eu tinha 19 anos, Isabel e o percurso é muito parecido, excepto ter frequentado letras.
Foi um sonho lindo e apesar dos avanços e recuos, a liberdade continua a ser um bem inestimável.
Beijinhos.