24 março 2009

Só um pouco de ilusão



Olha, meu filho, não resisto, às vezes, a fingir que me podes ouvir...
Triste ilusão a minha, não é?
Às vezes, penso também que, de alguma forma, nos prepararam, a ti, a mim, ao Manel.
Recordo, agora, aquelas frases ditas a medo "Isabel, tens que aproveitar ao máximo companhia do teu filho..."
Eu percebia mas fingia.
Ou acreditava mesmo que aquela realidade opaca, à minha frente, não podia existir.
Que era possível avançar, avançar, todos os dias, mais um bocadinho.
Só mais um bocadinho, se possível...
De que outra maneira poderíamos ter aguentado?
A verdade não pode ser dita a quem é tão jovem, tão cheio de vida, tão forte, apesar de tão frágil.
Não pode ser dita a quem não tem mais do que a própria esperança de vida.
Por isso, não percebo aquela reportagem do Público do fim de semana passada; onde os médicos dizem andar a aprender a saber dizer aos doentes que vão morrer.
Se for alguém em idade de morrer ...
Se for alguém que precise de deixar a vida "organizada"...
Se for alguém que precise e insista em saber...
Posso compreender.
Mas quando nada há a organizar, nada há perder...
Quando as perguntas não surgem; porque se receia a resposta?
Querem insistir em dizer?
Não percebo.
E por muito que me critiquem, acho que a notícia duma morte anunciada a um jovem que não desiste de lutar, embora possa suspeitar, é pior do que a tão perturbadora e polémica eutanásia, junto de quem estando vivo, porque apenas o coração ainda bate, está dorido, está "morto" para si e para os outros; um corpo sofrido numa cama, donde nunca sairá, donde não acordará. Amarrado a uma prisão que se chama dor. Só dor.
Mas quando se é autónomo e se sabe que "algo" lá dentro não está bem e, no entanto, se despreza a doença...
Então esta notícia é, de facto, a morte! Uma morte mil vezes mais dolorosa; estando vivo, estando acordado, estando apaixonado pela vida e querer saboreá-la até ao fim...
E, então, que o fim seja apenas um adormecer lento e profundo.
Sabendo, sentindo uma mão meiga, ali, pertinho.
Segura e calma, que, ainda assim, nos acompanha.
Foi bom ter sido assim...
Podermos ter bebido cada gotinha de vida.
E tenho saudades ... de ti, de cada bocadinho de tempo, de cada sorriso mesmo ténue, de cada momento de engano, de cada mentira piedosa.
Não teria sido possível, de outra forma.
Estranho dizer "foi bom ter sido assim" e sentir-me triste.
Uma tristeza tão imensa.




Astor Piazzolla

Olá, caros ouvintes, hoje a semana começa com um músico que, não sendo um músico de jazz, deve muito ao jazz e o jazz também lhe deve muito a ele. O convidado de hoje chama-se Astor Piazzolla e é argentino.

Este nosso convidado apesar de ter aspecto de avô rezingão é um senhor com óptimo sentido de humor. Nos concertos e nos intervalos entre as músicas Astor fartava-se de dizer piadinhas e de pôr o público a rir. Astor Piazzolla falava espanhol, francês, alemão, inglês e penso que também grego e turco.

Inicialmente, Astor queria ser um compositor de música clássica por estar farto da música argentina. Até que um dia, a compositora e sua tutora Nadia Boulanger lhe disse que ele se devia virar para as suas raízes e construir dali a música que queria.
Foi então o que Piazolla decidiu fazer - olhar para o Tango e a transformá-lo.

Desta forma Piazzolla criou aquilo a que chamou ele próprio o “Nuevo Tango” e tornou-se no compositor argentino mais conceituado do mundo.

Por hoje já chega de teoria e vamos passar à prática. Fiquem com o Astor Piazzolla.

Até logo que... Jaaz Faz Tarde

David Sobral (Setº 2003)



Astor Piazzola

5 comentários:

Anónimo disse...

TANGO


Sei que virás um dia

E me abraçarás daqui

E levarás

Que dançarei contigo

O tango em rodopio

Mas nunca é hora

Não mais que para uma dança

Assim

Sincopada

Corpórea

Sedução física

Embalada e sensual

Não

Não é a hora

E não me leves a mal


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Março de 2009

manuela baptista disse...

VALSA


Conto-te um segredo

Sem anestesia

Ou medo

Ao som de um tango

Passo doble

Bolero ou valsa

Não é bem isto

Que eu quero

Esta esperança falsa

Mas o rodopio agita

O faz de conta do som

O violoncelo do tom

A verdade que magoa

O virtuoso acordeão

E a tua força de leão


Manuela Baptista
Estoril,28 de Março de 2009

Olga Almeida disse...

Gostei particularmente deste texto do Jaime Latino Ferreira. Porque gosto muito de tango, porque adorava saber dançar e, especialmente, porque eu e o David decidimos que quando ele ficasse bom, aprenderíamos a dançar... Gostava de ter a certeza que um dia me cruzarei novamente com o David, para fazer tudo aquilo que o tempo não deixou...

Um beijinho ao Jaime e um especial à Isabel.

Olga

jaime latino ferreira disse...

PASSO DOBLE DA VIDA


À Olga

Minha Querida,

Este Tango, este tango da Piazzolla é também uma metáfora da Vida, da Vida, desta e da outra, com a morte pelo meio, esse elemento do par que nos desafia e interpela, que nos ronda sempre e espicaça, provoca e nos revira, nos revira e faz, literalmente, excedermo-nos como um tango tão bem o conta e desenvolve.

Nadia Boulanger tinha razão, tinha razão ao dizer que não se podem contornar as raízes sem as quais a originalidade e a pujança não brotam do artista e Piazzolla aprendeu de tal modo a lição que se excedeu e às próprias raízes excedeu, transformando-as.

Olga, oiça e dance, siga o pulsar de um quente tango, deixe-se evoluir na pista, sozinha ou acompanhada, leve e erguida de cabeça e retirando o peso ao corpo como se embalada se deixasse levar pela Vida, na vida que David, estou certo, deseja que viva, tão intensamente como um Tango.

Um Tango de Piazzolla!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Março de 2009

Ana Cristina disse...

Olá mana,

Hoje encontrei a mãe da tua aluna -Amarílis Felizes.
Entregou-me dois cartazes e pediu-me para tos fazer chegar.

Trata-se da divulgação de um espectáculo "Coro dos Maus Alunos" de Tiago Rodrigues com encenação de Amarílis Ferreira que vai a cena nos dias 18 e 19 de Abril no Cine Teatro Eduardo Brazão em Valadares-a entrada é livre.

"O "Coro dos Maus Alunos" é a história de um professor contada pelos seus alunos.
Pretende ser uma história sobre o poder transformador do ensino sobre o crescimento intelectual e humano de um grupo de jovens inspirados por um professor invulgar...É também uma história sobre o preço a pagar pela procura da verdade."

Como sei que inspiraste e continuas a inspirar muitos dos teus alunos achei que devia deixar aqui esta notícia.

Acho que irei assistir.
Será uma homenagem ao nosso querido David em mês de Abril.

Tal como ele são jovens, estes do Grupo de Teatro Jovem de Gaia, que gostam do espectáculo e da música.

Bjis.
Nini