23 março 2009

Borboletas amigas


As borboletas do Jaime ou os amigos do Blog?


Os meus amigos do blog são de uma imensa generosidade. Atentos às minhas quebras de ânimo...
Parece que já me conhcem há muito tempo e detectam a saudade e desânimoem que, às vezes, me afundo.
O meu psi é um encanto de pessoa; preocupa-se comigo e quer que eu seja aquilo que ele designa por "uma avó saudável".
E eu esforço-me por isso.
O meu neto merece-o e o Sérgio também.
E o Manel mais que ninguém; está sempre atento, pelo canto do olho.
Mas é difícil, tão difícil...
O meu psi vai-me pedindo uma coisinha de cada vez...ele sabe bem que não sou uma paciente obediente: Acompanhou-me, desde que lhe apareci, desesperada, louca no início da doença do David, sabendo a crueldade do prognóstico e "sofreu" um pouco comigo.
É humano; tem filhos...
Percebi que a mãe a quem um filho morre é também o caso mais triste que um psi, sensível como ele, pode aceitar. Ele sabe que é uma dor imensa!

Já lhe fiz algumas cedências: deixei de escrever cartas diárias ao David, antes de dormir; reduzi alguns passepartouts que tinha nas paredes, em todas as prateleiras e cantinhos da casa. Lembro-me de ter comprado quase 50, para distribuir entre aqui e Moledo. Todas as fotografias me pareciam imprescindíveis (e são cá dentro de mim)...
Aceito jantar em casa de um ou dois amigos mais próximos, nossos e do David. Dos restantes imensos amigos...ainda não.
O pânico toma conta de mim quando se aproxima qualquer evento onde se juntem mais de 5 ou 6 pessoas. Começo a ficar com a boca seca; o coração salta e desisto. Não saio, não vou.
Não tenho coragem e habituei-me demasiado à solidão.
Canso-me das conversas; não sou capaz de me concentrar e, sempre que posso, começo a falar do David.
Aproveito cada pretexto.
E choro, choro sempre...

Por tudo isto, gosto tanto dos meus amigos do blog. Posso partilhar, sem que me vejam, sem que eu os vejo ou os sature porque só vão ao blog, quando querem.
E eu grito em silêncio, falo deste meu canto de tudo o que pode explodir, se não o referir e se não o vir aqui, registado a negro.
Da saudade
Da incompreensão
De (quase) ter a certeza de que a morte do David não era inevitável
Da revolta contra os médicos; não lhe terem prestado atenção, quando ele se queixava
De não terem interpretado os sinais
Do meu olhar em redor e, às vezes, não saber o que me prende
Da saudade que pesa mais se alonga na proporção do tempo que passa
Da tristeza imensa, indescritível
Da crueldade por parte de alguns
De não me reconhecer nesta vida que não projectei
De me ter calhado o que cada mãe mais teme
De tudo ter ficado pela metade...
Do vulcão que nos varreu para para uma outra margem
E da música.

E, porque o amor do David à música foi uma constante no seu curto percurso pela vida, vou passar a colocar, aqui, os programas de Jazz que passaram na rádio universitária de Coimbra e que preparava e actualizava para propor a uma rádio normal.
Fica mais um bocadinho do David por aqui, através de mim.



Miles Davis

Actualmente o jazz vive sob todas as formas que aqui divulgamos ao longo das últimas edições do jazz faz tarde que são: o estilo de New Orleans, o Swing, o Bebop, o Cool e o Free Jazz.

Uns preferem tocar ao estilo New Orleans, outros Swing e ainda outros tocam apenas Free Jazz.
Cada um escolhe aquele com que se identifica mais.
O Jazz é liberdade em forma de música.

Hoje vamos ouvir um tema de Miles Davis da sua fase de jazz-rock.
O tema chama-se “John McLaughling” que pertence ao disco “Bitches Brew”.
Este disco é considerado o mais significativo do estilo jazz-rock ou fusão, criado pelo trompetista Miles Davis.

Confesso que este é o meu disco de jazz preferido e portanto espero que gostem também.
Até logo.... que Jazz Faz Tarde

DAVID SOBRAL

Miles Davis

7 comentários:

Anónimo disse...

ISABEL VENÂNCIO


Minha Querida Amiga,

Uma avó saudável, como diz do Seu psi, no meu entender, não transfere para o neto a dor de um filho!

Por isso faz muito bem em a estampar aqui, neste sacrossanto lugar e no meio das suas borboletas que Lhe querem bem.

As borboletas não são minhas, são suas e eu, nelas me incluo.

A Isabel é a mãe, esse fundo espiralístico e absorvente em que elas, as borboletas, esvoaçam.

Esse turbilhão de sentimentos, vai-vém que não tem como voltar atrás a não ser que viajando, como aqui o faz, pelos interstícios da memória que quer, acho muito bem (!), conservar viva ...

E esta Sua memória lá se vai enriquecendo, agora com música, esse lugar sem tempo e sem espaço ou com todo o espaço/tempo!!!

Miles Davis Bitches Brew

Fermento de prostituta

Prostituição fermentada de Miles ...!

Belo video!

O Jazz é liberdade em forma de música, escreve David e bem.

Fusão de estilos, fermento de géneros ...

Underground libertador de catacumba como o são os espaços tradicionais onde o Jazz, de há muito, se faz ouvir.

Eu assisti a um concerto de Miles ainda antes do 25 de Abril, em amplo espaço, no velho e já demolido Pavilhão dos Desportos em Cascais, ali encravado entre o Jardim Conde Castro de Guimarães e o Jardim da Parada e lembro-me do impacto que, na altura, teve!

Fermento prenhe de Mundo sem medo de se expôr!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Março de 2009

Ana Cristina disse...

1 beijo.
Nini

Anónimo disse...

Um beijo, Isabel, um beijo, David.
MM

Anónimo disse...

Isabel.Siga o seu sentir.abraço amigo.António.

Branca disse...

Isabel,

Vim a voar, noite dentro espreitar este seu cantinho e aqui me fiquei maravilhada com a música e com o texto sobre o Jazz. Obrigada pelos ensinamentos teóricos. Vou passando para aprender mais.
Quanto ao resto, é o seu mundo e nós estamos cá para a ouvir e também aí aprendemos.
Beijinhos.
Branca

Anónimo disse...

Querida Isabel, cada vez que fala do David, sente-o mais perto, ouve a usa própria voz, não é? É tão bom quando nos deixam falar...mas há poucos que querem ouvir.
Venha para aqui, quando for assim, nós estamos consigo da melhor forma que sabemos.
Um bjs grande,
MM

Anónimo disse...

Isabel,
deste lado escreve-lhe aquela psicóloga que a contactou há uns tempos atrás, via email, para lhe falar de uma "mãe para sempre", que estou a acompanhar em consulta.
A Isabel tem razão. A perda de um filho é de facto o caso mais triste que os psis podem ter pela frente. Penso que nenhum outro problema ou dificuldade que possamos ter na vida se iguala a isto. Não tenho embaraço em dizer que já deixei os meus olhos ficarem marejados estando em consulta com essa utente que acompanho. Não era suposto, pois não, mas não pude controlar.
Saiba que continuo a espreitar este seu cantinho, e a aprender muito consigo, tentando com as suas palavras ajudar a minha utente...
Um abraço muito grande, Maria José Ribeiro