28 dezembro 2008

Uma caixa de correio




Queria travar o tempo que me empurra. E não consigo.
É um combate desigual.
Tenho contra mim a condição humana
Tive contra mim a lei da morte, imprevisível, na escolha da caixa do correio. «No dia seguinte ninguém morreu.» diz-se em "As intermitências da morte".
Esse foi um intervaloo, fruto de um acaso de amor...
Queria ter travado o tempo, a tempo de viver um futuro antigo, desenhado com paixão de mãe.
Agora, por uma qualquer confusão estranha nas caixas do correio, esse futuro deixou de ser o futuro que sonhara.
Há tempo mas não houve tempo.
Não houve tempo de dizer que era engano.
Tinha só 29 anos...
Algo acelerou o teu tempo ou o consumiu, sem me consumir com ele.
Desencontrámo-nos, num certo momento difuso, entre a noite e o nascer dum nostálgico e estranho dia.
E eu queria, mesmo assim e mesmo agora, travar este tempo que me empurra por percursos de que não conheço sequer o nome.
Assusto-me perante esta janela opaca. Não vejo para além da barreira.
Mas empurram-me.
E eu sinto-me cansada.
Parti e permaneço.
E são precisas forças para permanecer, assim...empurrada pelo tempo.
Porque tem que ser.
Porque há coisas que não podem acontecer.
E se acontecem?


Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor ...

Drummond de Andrade

5 comentários:

Anónimo disse...

Querida Isabel,

Tens contra e a teu favor a condição humana!

Já Te imaginaste sem ela?

Será, algume vez, possível veres-Te sem ela?

Ou afirmares que a tens contra Ti sem que nela Te fundes?

E não é ela, a condição humana, essa mesma e Tua capacidade de Te interrogares afirmando tê-la contra Ti própria!?

De Te colocares nela e para lá dela, distanciando-Te, o que Te faz afirmar, repito, que a tens contra Ti!?

Como se, implicitamente, de outra natureza tivesses a percepção embora não sendo a Tua natureza, agora e presente!?

Embora sendo a partir da Tua que à outra lhe chegas porque o afirmas e interrogas!?

Ou que, tão antiga como o amor e muito mais do que Tu própria ou eu, nós todos, na Tua e nossa condição humana à outra lhe consigamos chegar!?

Senti-la e logo porque a afirmas como o fazes!?

Temos contra ou a favor (!?), a lei da morte ...

ou ... a ilusão da morte!

E dessa ilusão fazes dela o que quizeres, Tu e nós todos, como, quando e se puderes.

Em qualquer dos casos, respeito-Te sempre!

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Dezembro de 2008

Anónimo disse...

Só uma palavra de esperança e um beijinho no seu coração cansado.MM

Recomeça….

“Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…”
Miguel Torga

Anónimo disse...

LOUCURA

Ilusões que me povoam os olhares

Nunca saciados já que ao estares

Para lá desta minha condição

Todo Te povoas sem senão

-.-

Em memória de Miguel Torga e agradecendo a MM a deixa

-.-

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Dezembro de 2008

Anónimo disse...

Isabel, Jaime, Manuela...passei apenas aqui para vos desejar um ano de 2009 melhor que o de 2008, se possível. Um grande bem hajam!
MM

Anónimo disse...

2009

A todos os que por aqui passam, a Isabel, Sua família e a MM em particular, desejos partilhados de um ano melhor, melhor em tudo:

Com saúde;

Alegria que se busque nos inesperáveis recônditos;

E Paz!


No recôndito de meu âmago

Oculto do coração

Nesta vontade que tenho

De não Te regatear a mão


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 31 de Dezembro de 2008