13 dezembro 2008

Tríptico


Quando as palavras não chegam
para retratar
a realidade,
buscam-se as dos que sabem dizer...
- os poetas de todos os tempos.





Tríptico
I
Nem a água corrente torna ao seu manancial
nem a flor desprendida da haste
volta jamais à árvore que a deixou cair.

II
Aqui era a morada do rei de Wu
e livre cresce a erva agora nas suas ruínas.
Mais longe, o imenso palácio dos T'sing,
tão sumptuoso e tão temido agora.
Tudo isso foi e não é, que tudo chega ao seu termo.
Os feitos e os homens viajam para a morte,
como as águas do rio Azul passam e vão perder-se no mar.

III
Um relâmpago fugitivo é a vida,
que mal dá tempo de a sentirmos passar.
Imutável é a face da terra, e a do céu;
mas quão rápido muda o nosso próprio rosto!

Li Tai Po (c.701 - c.762)

7 comentários:

Anónimo disse...

Isabel

Mesmo quando não diz, acaba por dizer.
Este seu blog é bonito. Bonito duma forma diferente dos outros.
O seu blog é um caso de vida.
Vida sentida e humana, que a todos devia tocar.
O seu blog ensina que o amanhã só existe se vivermos plenamente o presente e não tivermos contas mal saldadas com o passado.
Acredito que se sinta menos mas que, mesmo assim, se dê por inteiro.
Que mais se lhe pode pedir?
Se deu tudo e continua a dar tudo de si.
Escreva.
Se não respondo, sempre, é porque não tenho nada de tão terno a acrescentar.
Percebi que este é o seu espaço, haja ou não quem a leia.
Um abraço de gratidão.
Eunice

Anónimo disse...

TRILOGIA OU TRÍPTICO

I

É uma forma literária ou pictórica composta em três partes como na música o são uma sonata ou um concerto que têm três andamentos por regra, estanques mas interligados entre si por uma cor, cromatismo difuso e que os perpassa ou um tema, no caso, a precaridade fluida das coisas, dos lugares e dos seres ou da vida mas que lido, visto ou escutado na complementaridade das suas três partes, como trindade, adquirem um sublime relevo e plausibilidade sempre acrescidas.

II

Interligando-se entre si, cada uma das três partes de que se compõe enriquece-se e o conjunto também, potenciando-se todas, matematicamente diria, elevadas à potência de três e na soma dos conjuntos, dos conteúdos de que se compõe cada uma delas.

III

Forma sublime de compôr, o tríptico, a trilogia, a sonata ou o concerto se elevam o espírito, potenciam também a realidade na trinitária forma interactiva do eu, do outro e daquele que panorâmico se distancia e faz a ponte, o autor ou, no caso, do seu olhar sobre as coisas, os lugares e a vida.

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Dezembro de 2008

Branca disse...

Subscrevo tudo o que a Eunice diz aqui.
E volto à minha avó,que a Isabel tanto me faz lembrar, porque amou tanto e tão profundamente todos que a rodearam durante toda a vida, mas sempre apaixonada pelo filho mais velho que tinha partido há mais de 30 anos.
Por isso e porque sou mãe duas vezes, de um filho com a idade do David e de outra mais nova, sei que ninguém ocupa o lugar de ninguém, mas que tal e qual somos, trazemos uma história, um percurso e uma "alma" para dar. A Isabel tem a sua, enorme, mesmo que nela algo se tenha quebrado, é dessa experiência que também bebemos ensinamentos para a nossa vida.
Obrigada pela partilha de tão grandes e íntimos momentos.
Beijinhos.
Branca

Anónimo disse...

EUNICE

Cresci com um disco na mão ...

Um disco vinil, com uma história infantil de Sophia de Mello Breyner Andresen:

A Menina do Mar narrada por Eunice Muñoz!

Aquela voz ...!

Simultaneamente quente e doce, grave como voz de um rapaz, quente como estrela e doce como chocolate.

Que maravilhosa peça, conto e música de fundo!

A música de Lopes Graça ...

Editada então, no início dos anos sessenta para um público infantil, por certo, mas não débil como tantas vezes se confunde a infância nesse olhar, esse sim débil, limitado e desastrado.

Eunice Muñoz ...

Como cresceu essa estrela!

Como todos nós podemos crescer, assim queiramos, a isso nos dispunhamos!!

Vale bem a pena, se vale!!!

A Eunice ...!

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Dezembro de 2008

Anónimo disse...

Teia

Pacientemente tece
O que ao tecer desvanece
A saudade que amortece
As agulhas de outras malhas
A tristeza de outras falhas
A ternura que se veste
Quente a lã porque anoitece

Manuela Baptista

Para a Isabel que compõe poemas por entre os fios de lã.

Estoril,16 de Dezembro 2008

Anónimo disse...

Querida Amiga MM,

E mais uma vez os Seus elogios me reconfortam:

Cheirou mesmo a Natal escreve e eu acrescento Natal alemão ...!

Estudei na Escola Alemã, convivi em criança com alemães amigos da família e sempre me ficou gravada essa forma singular como os nórdicos e os alemães em particular celebravam, porque não sei se o continuam a celebrar assim (!?), o Natal:

Dos cânticos onde sempre pontificava Bach aos rituais, aos enfeites e às luzes, tudo cheirava, sabia a magia ...!

O que Lhe conto no episódio relatado aconteceu mesmo nos idos anos que já lá vão.

Obrigado, um beijinho e como escrevi em alemão, Santa Noite ( de Natal )!

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Dezembro de 2008

Anónimo disse...

Caro Jaime....também eu andei na Escola Alemã. Dos 4 aos 17 anos!
Realmente, há coincidências espantosas! Oh Tannenbaum, oh Tannenbaum,wie grun sind deine Blätter!" :)
Foi se calhar por isto que me identifiquei tanto com o seu texto.
Obrigada, mais uma vez.