05 setembro 2008

Tenho saudades



Aqui estou, David.
Um pouco atormentada por não saber quem sou.
Mãe orfã? Não, porque tenho um filho.
Ou talvez sim. Porque cada filho é só aquele filho e são dois.
Mas mãe é uma só pessoa que se desdobra por cada filho.
E se uma parte se parte e fica apenas a metade?
Como se recolhe a parte que partiu e se guarda na caixinha, longe do olhar do outro filho?
Como é possível que a parte que ficou se reconstitua e pareça inteira?
É tão difícil este pôr e tirar as máscaras.
Não sei quem sou...
Fujo. Falo demasiado, sem pensar, para não chorar.
Ando atormentada.


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.


Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Drummod de Andrade

7 comentários:

Anónimo disse...

Isabel, quando leio a sua dor, ela "alápasse-me" ao coração....é uma injustiça tão grande!!!!
Imagino o seu rosto e as suas máscaras, acredite que posso imaginar. Como costumo dizer..."uma coisa é a montra, outra coisa é o que vai no armazém...!"
Um beijinho grande,
MM

Anónimo disse...

Querida Isabel,

Já tinha lido este post hoje de manhã, quando comentei o anterior, contudo deveres profissionais não me permitiram deixar aqui umas palavras.
Faço-o agora e no entanto acho que nada tenho a dizer a não ser deixar-lhe o meu carinho, como fiz atràs.
Não vou comentar a passagem destes dias, ninguém pode entender ou exigir que tenha uma mâscara para estes dias que se aproximam do primeiro ano da partida do David. Fico apenas por aqui a dar-lhe uma força e a pedir que encontre no seu neto e no seu outro filho um motivo para ultrapassar o melhor que poder estes dois meses. O David gostaria que a tormenta que vai na sua alma, se transformasse num mar mais calmo de emoções e tenho a certeza que este momento é apenas o Cabo das Tormentas que dobrará já de seguida a caminho da Boa Esperança de novos mundos...e é nele, David, que encontrará força para todas as descobertas futuras...tenho essa certeza.
Um enorme abraço de uma mãe que acha que a compreende mínimamente e que lhe vem oferecer um ombro amigo.
Beijinhos
Branca

Anónimo disse...

Davidocas

Cheguei ao Porto e tu não estás cá.Tanto tempo perdido longe dos teus olhos doces e do teu carinho.

Descanso os olhos nas tuas fotos espalhadas pela casa da tua mãe e dou-te 1 beijo todas as noites, antes de adormecer no teu quarto que agora me aconchega por uns tempos.

Também tenho saudades... saudades que enlouquecem e apagam o sorriso aberto de outros tempos...saudades de nunca mais te encontrar quando abro a porta de casa.
Saudades de ti.

1 beijo da Nini.

Anónimo disse...

Isabel
Como a compreendo! Se só de pensar na minha filha bebé, se me gela o sangue.
Compreendo-a mas não posso imaginar o que deve sofrer.
Mas sofre e escreve com tanta humanidade, beleza e ternura...que não posso deixar de a vir ler.
E não posso deixar de partilhar um pouco da sua saudade de mãe.
Se já tenho saudades dos tempos de bebé da minha menina!!!
A minha filhota também se chama Isabel.
O seu blog é dos mais bonitos que conheço.
Um beijo
Luísa

Isabel Venâncio disse...

Que bom saber que esta flor do meu jardim se chama Passiflora!
E que é a flor da paixão.
E que andam sempre unidas.
Obrigada
Isabel Venâncio

Isabel Venâncio disse...

Que bom saber que esta flor do meu jardim se chama Passiflora!
E que é a flor da paixão.
E que andam sempre unidas.
Obrigada
Isabel Venâncio

paula machado disse...

olá Isabel

passo para lhe desejar um bom fim de semana
não consigo dizer mais nada porque eu sei o que a Isabel sente quanto mais chega perto o dia mais doi infelizmente vai ser sempre assim um, dois,três....por aí fora vivemos tudo outra vez doi muito

beijinhos do tamanho do Mundo