25 setembro 2008

A eternidade, se possível!



Mais um dia em busca de um tempo a que já não tínhamos direito...
Em Paris, uma greve de taxistas.
O David cansado, a arrastar-se atrás...devagarinho, devagarinho.
Mas não triste! Apenas mais sonolento, apenas mais lento, apenas mais sobre si...
Conversava, de vez em quando, ...
Limitava-se a seguir-nos, devagarinho, cada vez mais devagarinho...
Pedia, de vez em quando, para pararmos, para se encostar um pouco ou aninhar-se porque os joelhos estavam cansados.
É assim que o vejo.
Não me vejo a pensar, só ando ou páro ou o ajudo.
Sem táxi, restavam os transportes públicos.
O hotel era próximo da paragem do autocarro.
Mais um esforço. Mais cansaço.
Descanso por um bocadinho.
Uma refeição improvisada no bar do hotel.
Fim da greve.
Ida de táxi para o hospital Paul Brousse.
Sala de espera, sala de espera, sala de espera.
Chamam-nos.
Avançamos. Avançamos determinados, sem cansaço, agora
O David estende a mão ao Prof. Machôver. Um sorriso retribuído.
O prof. Machôver reconhece o David.
"Alors, David, comment tu vas?" "Très bien, merci."

O David olha para mim e para o Manel, um de cada lado.
Estamos aqui. Contigo, com a tua força.
Sorrimos uns para os outros.
O prof. vê exames, PETs, TACs,...
Recomenda um tratamento...ligeiramente diferente.
É preciso um compasso de espera para que o fígado recupere.
Receita uma dose mais elevada para algumas dores de que o David ainda se queixa (a mim, não a ele).
Diz que não há vantagem nenhuma em ter dores.
Completamente desnecessário...
Diz que vai correr bem.
O David sorri e conversam de outras coisas.
Música, cinema...sobretudo jazz.
O David levou um CD do Bernardo Sassetti.
Oferece-o ao prof. que lhe pergunta como, sendo tão jovem, revela tanta cultura musical e cinematográfica.
O David responde, indicando o Manel.
"É ele o responsável", diz.
Conversa-se mais um bocadinho.
Saímos, temos a alma mais leve.
Paris, um restaurante escolhido pelo David.
Leva a página da net para mostrar ao taxista, que nos deixa à porta.
Moules... Mais moules.
Comeu bem. Soube-lhe bem. Estamos bem.
Hotel.
Dormir. Dormir, sempre.
Mas o pêndulo conta o tempo.
Podíamos dormir, para sempre...
Temos que regressar...
Para que nos dêem um pouco mais de tempo.
A eternidade, se possível!
Lado a lado...

2 comentários:

Anónimo disse...

Como a percebo....existe um sms da Cláudia chegado directamente de Londres no dia 28 de Fevereiro de 2007, que não consigo apagar da memória, nem da minha, nem da do meu telemóvel e que transcrevo: "O futuro a Deus pertence, mas há uma luzinha no fundo do túnel. Confirma-se que o meu caso é muito grave e que há um longo caminho por percorrer. Conto convosco para lá chegar." Sempre a esperança, mesmo nos limites do cansaço.
Um grande beijinho, Isabel. Não há nada que se diga, que atenue a dor.Só a lembrança talvez nos dê alento para continuar.
MM

Anónimo disse...

Estranha, como é estranha a memória que fixa imagens na retina.
Como um filme antigo, mudo, a preto e branco.
Flashes de luz no escuro.
Aqui, apenas se vêem as cenas que marcam os passos de dor.
Da sua dor...
Diferente das dores do David.
Serene, Isabel, os males do fígado entorpecem.
Sobeja um enorme cansaço.
Era o cansaço do David.
A sua dor é, ainda,...
MJ