10 setembro 2008

Estranheza!




Estranho.
Há saudades estranhas. Estranhas como as árvores no Outono, quando as folhas caem saudosamente.
Saudades de vidas nunca vividas.
Saudades da mão que me estendias para me sossegar.
Saudades do dia em que juntasse, debaixo da minha asa, filhos e netos.
Saudades dum futuro teimosamente projectado, contra tudo.
Saudades da saudade leve doutros tempos que se vão esfumando lentamente.
Saudades da esperança que sentia, mesmo quando todos ma tiravam.
Esta saudade é uma pedra atada à volta do coração que me puxa para o fundo do rio.

Este mundo assim, da saudade das mães orfãs de filhos, foi uma invenção cruel...



Herança


Eu vim de infinitos caminhos,
e os meus sonhos choveram lúcido pranto
pelo chão.


Quando é que frutifica, nos caminhos infinitos,

essa vida, que era tão viva, tão fecunda,

porque vinha de um coração?


E os que vierem depois,
pelos caminhos infinitos,

do pranto que caiu dos meus olhos passados,

que experiência, ou consolo, ou prémio alcançarão?


Cecília Meireles

1 comentário:

Anónimo disse...

Às vezes venho aqui,leio os seus tocantes textos e não comento.Penso para mim" já nada mais de reconfortante posso transmitir à Isabel".E,logo a seguir,firmo a convicção de não mais comentar,para assim respeitar a sua Dor.Depois,hesito.Algo me prende a esta sua desdita.Não sei que seja.Não interessa.A alma tem razões que a razão desconhece e a Humanidade é uma delas...António