22 setembro 2008



Ando cheia até aos olhos de saudades e saudades.
Que, cada vez mais, me desmembram. Não lhes posso fugir...
Não tenho, já, a mais pequena dúvida de que vou ficar, assim, repartida em tempos que se sobrepoem e nunca se misturam.
É no fundo, lá bem no fundo deste vertiginoso abismo, entre dois tempos, que escorre o regato da minha tristeza.
Entre as encostas dos tempos vou construir uma ponte levadiça.
Atravessá-la-ei, sozinha, as vezes que eu quiser.
Não serão necessárias chaves nem ferrolho.
Só as nossas palavras mágicas me franquearão a travessia.
.......
Sei que, com o tempo, cada vez mais, terás pertencido a outro tempo.
Chegará a altura em que o teu tempo se terá perdido na flecha do tempo que tudo leva e nada devolve.
Dizem que a lei da morte é a lei do esquecimento.
Não será, mas...para já...
Quero confundir-me por entre as gentes; encontrar caras anónimas; misturar-me entre desconhecidos.
Não há de que falar...
Nada tenho a declarar...
Se tudo continua a parecer-me um sonho.
E tenho tanto medo de acordar.



David

Vou escrever as palavras que o avô não conseguiu escrever "...que foste um bom neto, um grande amigo e que tiveste a força que todos nós não tivemos..."
O teu avô Xico
(pela Nini)

2 comentários:

Anónimo disse...

Olhe, Isabel
Passo por aqui muitas vezes. Também perdi um filho, há sete anos.
Acho que nunca nada me fez tão bem como o seu blog.
Nunca tive a sua coragem de dizer o que sentia.
Agora, sinto consigo.
Porque sente o que eu tenho sentido.
Hoje, enchi-me de coragem e vim dizer-lhe - OBRIGADA.
De mãe sem filho (único) para mãe que perdeu um filho.
Maria Elsa

Anónimo disse...

Boa noite, minha querida
Porque é uma querida, corajosa e determinada em manter-se viva.
Apesar de se sentir só pela metade. Eu compreendo.
Mas não imagino.
Não consigo imaginar, sequer.
Um abraço
Joana Meireles