14 agosto 2008



Não consigo evitar estar mais alerta a tudo.
Hoje, no supermercado, enquanto arrumava as compras no saco, a menina (senhora) da caixa olhou para a medalha que trago ao pescoço e disse "Estou a olhar para a sua medalha, é tão bonita!"
A medalha que trago diz apenas que sou "mamã para sempre".
Sem pensar, disse-lhe "A medalha é bonita, é! A razão por que a trago é que não!"
Voltou a olhar para mim e disse "Eu também perdi um filho com 13 anos, há 3 anos! Percebi pela forma como o disse e pelos seus olhos."
Só acrescentei que o meu tinha 29 anos e tinha morrido há 9 meses.
E fiz-lhe uma festa na mão que ela retribuiu, enquanto os clientes seguintes, olhavam para nós, silenciosos. Tinham ouvido esta conversa rápida.
E afastei-me, mandando-lhe um beijo pelo ar.
Não nos conhecíamos, nem de passar por ali; não sei o nome dela... fixei-lhe os olhos.
..............................
Há um ano, em Barcelona, passámos (o David, eu e o Manel) toda esta noite de 14 para 15, na urgência do hospital Vall d'Hebron. Saímos de lá já com sol, com o David a cambalear de sono e cansaço mas aliviado das dores musculares que nos tinham levado lá.
Agora, que o tempo passou e tenho todo o tempo do mundo para pensar, duvido que fossem dores apenas musculares.
Ainda bem que, na altura, foi esse o diagnóstico... e que acreditámos...
Deu-nos tempo - o bem mais precioso!



Há muito tempo, no Tibete, uma mulher viu seu filho, ainda bebê, adoecer e morrer em seus braços, sem que ela pudesse fazer nada. Desesperada, saiu pelas ruas implorando que alguém a ajudasse a encontrar um remédio que pudesse curar a morte do filho. Como ninguém podia ajudá-la, a mulher procurou um mestre budista, colocou o corpo da criança a seus pés e falou sobre a profunda tristeza que a estava abatendo. O mestre, então, respondeu que havia, sim, uma solução para a sua dor. Ela deveria voltar à cidade e trazer para ele uma semente de mostarda nascida em uma casa onde nunca tivesse ocorrido uma perda. A mulher partiu, exultante, em busca da semente. Foi de casa em casa.
Sempre ouvindo as mesmas respostas - “Muita gente já morreu nesta casa”; “Desculpe, já houve morte em nossa família”; “Aqui nós já perdemos um bebê também.”
Depois de percorrer a cidade inteira sem conseguir a semente de mostarda pedida pelo mestre, a mulher compreendeu a lição.
Voltou a ele e disse: “O sofrimento me cegou a ponto de eu imaginar que era a única pessoa que sofria nas mãos da morte”.

Retirado da net, sem ter conseguido identificar o autor.

9 comentários:

Branca disse...

OLá Isabel,

A sua experiência no supermercado de passagem por essa mãe com experiência idêntica e a história que retirou da net e que nos transmite toda a imensa sabedoria dos monges budistas, são dois momentos extremamente comoventes, mas que nos mostram que a vida é uma partilha e que nenhum de nós deve ficar fechado na sua concha e que ela só vale se vivida com amor...
Beijinhos
Branca

Anónimo disse...

Peço desculpa pela repetição da palavra experiência no meu comentário.
Também no post anterior coloquei um s a mais construindo um plural onde deveria ser um singular (impressionantes).Tinha que voltar porque tive um excelente professor de português que por acaso vive na sua cidade e sendo a Isabel da mesma área, não me perdoo estes erros, ainda que sejam ditados por uma cabecinha que anda muito cansada.
Também já vi pela forma como escreve e pela personalidade que demonstra nos comentários que faz que é uma excelente professora, ando a aprender muito consigo, com os poemas que aqui coloca e com tudo o que escreve. E por tudo isso é muito interessante vir ao seu espaço, ele não transmite só saudade, como à primeira vista possa parecer, ele transmite sobretudo vida, partilha e muito bom gosto.
Obrigada Isabel.
Beijinhos
Branca

Anónimo disse...

Creio que a história do monge é atribuida ao próprio Buda,quando uma mulher lhe pediu o milagre de ressuscitar o seu filho.E também creio que o encontro,que a Isabel relatou,com a senhora que trabalhava no supermercado,não aconteceu por acaso,está pleno de significado,como,de sinaléctica transcendental,está o facto de ter sido avó 9 meses depois do falecimento físico do seu amado David.Os sinais,a meu ver,são claríssimos e esta é uma história de Vida plena de Transcendente.Buda não tinha razão quanto à inexistência da Alma e do Ser,mas apenas quanto ao conceito da impermanência dos estados físicos.António

paula machado disse...

olá Isabel

é extramamente comovente quando alguém olha para nós e nos compreendem tão bem aquilo que nós sentimos
Isabel força e muita coragem amiga

beijinhos para todos do tamanho do Mundo

Carecaloira disse...

Isabel,

obrigada pela mensagem no meu blog.
Eu sou mesmo do mar, sou Marina Marinho!!

Estou de acordo com os comentários já feitos. Penso que o encontro no supermercado e o nascimento do seu neto 9 meses depois são sinais, sinais de que a vida continua e há sempre esperança.

Um beijo muito grande
Marina

Anónimo disse...

Olá, Professora

Tudo em si é bonito.
Foi um privilégio tê-la tido como professora e amiga para sempre.
Já na altura, nos falava muito dos filhos e do orgulho que tinha neles.
Até os olhos se lhe riam.
E o David até nos deu uma aula sobre Teatro. Lembra-se? O que ele se "zangou" connosco por cochicharmos.
É que ele era tão bonito-:)
Tivemos tanta pena.
Ana (uma das várias!!!)

Anónimo disse...

Olá, Isabel

Este blog é de visita obrigatória. Sem pretensiosismos. Ditado ao sabor do pensamento e da emoção.
Sobretudo da saudade, sempre visível.
Todos os caminhos lá vão dar.
Imagino que este espaço seja a sua catarse.
E que bonito.
Obrigada
Rosa

Anónimo disse...

Isabel

Gostaria de a poder consolar mas imagino que não haja consolo possível para a sua imensa perda.
O seu testemunho de um luto sofrido e inigualável é um exemplo de vida e de amor.
Pelo David que lhe falta.
Pelos que ficaram ao seu lado.
Vê-se que se divide.
Não é fácil comentar os seus textos.
Mas venho sempre.
Talvez surja um livro sobre este seu amor de mãe em luto.
Há muitas.
E já outras partilharam as suas experiências.
Não acha que lhe faria bem?
Pense nisso.

Um blogueante

Anónimo disse...

Olá Isabel,

Voltei a este post. Tocou-me o comentário da aluna Ana, voltei para o reler e lembrei-me de uma frase que li há dias no blog do Dr. Júlio Machado Vaz, que dizia: "Há quem viva com demasiada ligeireza a influência que teve... na vida de outros!".
O testemunho desta aluna faz-me crer que a Isabel tem perfeita noção da influência que tem na vida dos outros...
Eu também amo ainda alguns dos meus professores e esta relação de amizade que se estende até ao seu filho, à sua família comove-me.
Beijinhos.