07 julho 2008

Le Passeur


Quando regresso, trago comigo as sombras luminosas de Moledo.
A luz que o David me ensinou a apreciar é, também, a minha casa.
Assim, trago o David comigo.
Para que não me sinta tão perdida nos corredores dos dias…
Desta vez, cuidadosamente fechada na mão, trago guardada mais uma prova do quanto ele marcou quem por ele passou.
A Filipa César, natural do Porto e residente em Berlim, dedicou ao David o último trabalho que fez.
E as lágrimas apareceram, de mansinho.
E uma enorme gratidão a quem o guarda no coração.
E são tantos...
Se ele pudesse saber, os olhos brilhariam.
E choraria de "emoção", como ele dizia.
Obrigada, Filipa querida.




Filipa César | Le Passeur | Ellipse Foundation | 5th July

11 comentários:

Anónimo disse...

CHANT

Le passeur
En disant
Nous ouvre son coeur

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Julho de 2008

Anónimo disse...

ELLIPSE

As an ellipse
the foundation
in my lips
no segregation

( A propósito do nome da editora de Passeur de Filipa César )

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Julho de 2008

Anónimo disse...

Minha amiga, estou a habituar-me a invadir esta casa frequentemente. Ela é feita de momentos tristes, mas belos, tão belos quanto os sentimentos que transbordam deles...
Hoje venho encontrar alguma sintonia e coincidência nos lugares de que o texto fala. Moledo é também um lugar de eleição para mim, aprendi a apreciá-lo desde os 14 anos, sempre os meus pais se deslocavam para lá de férias e eu continuei a fazê-lo com os filhos. Toda aquela zona tem uma luz própria, uma calma e uma serenidade únicas...a serenidade de um pôr do sol diferente sobre a Ínsua, ou o contemplar do Monte de Stª Tecla...
O David só podia ser um artista sentindo como vejo que sentia "as sombras luminosas de Moledo", só o sabe quem frequenta aquele lugar em qualquer altura do ano, quem ama aquele sítio...as ruas com as árvores, o Pinhal de Camarido, a apanha do sargaço a horas mortas...os silêncios e a música do bater das ondas à noite, na escuridão da praia...
Reparei também que reside em Vila Nova de Gaia, estamos tão perto, tantas vezes ando pelos seus lados, Canidelo, Salgueiros... Gosto de fazer a marginal toda do Douro, desde a minha zona, no concelho vizinho, até à Afurada e continuar pelas praias, principalmente em dias calmos e até que sejam de chuva, em que o mar e mesmo o rio são sempre um ponto de encontro comigo mesma.
Gostei de saber destes amores do David e fiquei a conhecê-lo mais um pouco, acho que começo a conhecê-lo bastante e já gosto muito dele.
Beijinhos para si.
Branca

Anónimo disse...

"A Ellipse FOUNDATION tem o prazer de anunciar a estreia mundial da obra Le Passeur, uma instalação da artista Filipa César.
Esta mostra, com curadoria de Pedro Lapa, inicia uma nova linha de programação do Art Centre que, através de Project Rooms, apresentará, individualmente, obras recentes ou inéditas de artistas da Colecção, em alguns casos financiadas e produzidas pela Ellipse FOUNDATION.
A obra Le Passeur é constituída pela projecção de dois filmes. Um deles apresenta os relatos de quatro pessoas envolvidas nos processos de emigração clandestina, por motivos políticos, entre 1971 e 1975. O outro transmite a experiência da passagem de um afluente do rio Minho que, no último século, foi palco de várias actividades clandestinas de fronteira. Cada um dos filmes é projectado numa das faces de um mesmo ecrã, assim mobilizando o espectador a quem cabe estabelecer uma leitura do conjunto.

"Le Passeur

A person who helps to cross a river with a small boat and, by extension, a person who helps to go clandestinely through a border or a ''no-trespassing'' area. There is also the idea of passing something to someone.''

Laurent Kretzschmar

Ellipse Foundation
Art Centre
Rua das Fisgas
Pedra Furada
2645-117 Alcoitão
Cascais
Portugal

* As receitas revertem a favor da Escola Profissional de Teatro de Cascais.

O meu querido David passou-me tantas coisas.
Beijinhos.
Nini

Branca disse...

Voltei, depois de andar por outros sítios, li alguns dos seus primeiros posts Isabel e tantas coisas compreendi e tanto me emocionei... Quem sabe já estive junto da rochinha do David...!
Imagino quanto essa dor magoa...
Tenho uma filha que posso considerar razoávelmente saudável, mas também ela já passou em Março e Abril de 2007 pelo HGSA, com um internamento por doença de Crohn e não arredei pé durante 3 semanas da sua beira e passados 15 dias de alta que se pensava definitiva(?) voltou por mais 3 semanas por causa de uma dôr aguda que teve que ser investigada, isto para dizer que sendo uma coisa menor perante a sua perda, não deixou de me causar algumas vezes uma dôr tão grande que chegava a ser física e revi-me um pouco no post em que fala do internamento do David e das noites que passava a chorar...não tem comparação possível...mas serve para imaginar e melhor a compreender. No entanto, sei que vai vencer melhor estes dias mais difíceis e imagino o David acompanhado pela beleza das gaivotas que ao fim da tarde se costumam passear pelas areias da praia de Moledo...
Tenha uma noite serena.
Beijinhos

Anónimo disse...

Minha Querida Ana Cristina,

Mas que estupidez a minha de não ter percebido logo que Ellipse é a Fundação sedeada aqui à nossa beira e que Passeur se trata de uma instalação que nela está patente!!!

Não invalidando a minha gaffe, os poemas que a Passeur e a Ellipse dediquei, a eles e não só, valem por si mas aqui fica o meu pedido de desculpas pela imprecisão por mim cometida e o sincero agradecimento que Lhe faço a Si, pelo oportuno reparo que fez!

Nestas coisas, quando nos enganamos, não adianta meter os pés pelas mãos, há que reconhecer de pronto o erro em que caímos e é quanto basta!!

É sempre um gosto cruzar-me Consigo e nesta situação particular não o é menos, gosto muito de Si e transmita a Sua irmã que embora a não conheça pessoalmente, já vou aprendendo a conhecê-La por esta via e logo, a gostar Dela também.

Um beijinho caloroso para as duas,

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Julho de 2008

sofia disse...

Simplesmente estou demais emocionada não consigo lhe dizer nada que a consiga reconfortar ,o meu coração dispara ao lêr cada palavra ,mas quero que saiba que não a conhecendo só me apetece escrever, gosto muito de si.FIQUE BEM.

Anónimo disse...

É difícil ler este "post" sem que elas apareçam a bailar.

Afinal, comecei a leitura do blogue do fim para o princípio.
Irrelevante, creio.

Anónimo disse...

ELLIPSE FOUNDATION

Le Passeur

Fui hoje de manhã com minha mulher, visitar pela primeira vez a Ellipse Foundation que logo me agradou pelas instalações e obras expostas mas na intenção de dar atenção particular à instalação Le Passeur de Filipa César.

Sentado no escuro da sala onde no verso e no anverso do ecrã se projectavam dois filmes a sobreporem-se acusticamente, um da paisagem envolvente de um afluente do Rio Minho e da sua luxureante vegetação verde, veículo de passagem que era para o Salto, a fuga clandestina para o exterior que se fazia quer em busca de trabalho quer por motivos políticos ou de deserção à guerra colonial, não menos políticos portanto e o outro, um coloquiar introspectivo envolvendo quatro personagens que ao tempo, ajudavam os clandestinos a saltar e que dando a cara o testemunham.

Sobreposição acústica:

Olhando para o rio e a paisagem natural, aos sons da natureza, sobrepõem-se as vozes dos personagens ausentes da imagem como se o rio, a água, o vento e os pássaros, eles próprios transportassem as vozes daqueles que recordam não estando lá, lá nas imagens que se vêem.

Olhando para os personagens a serem entrevistados, ouve-se o som da água, do vento ou dos pássaros que em fundo parecem corroborar e testemunhar o risco daqueles que não exitavam em ajudar quem em busca de um lugar ao sol assim fugiam ou daqueles que não se dispunham a pactuar com o regime, com o Estado Novo que de velho ruía sem cair.

Fronteiras físicas, as geográficas ou humanas e no entanto, deixam-se impregnar umas pelas outras em osmose de tal maneira que desses obstáculos, aparentemente inultrapassáveis (!), se fundem acusticamente e nos levam ao sabor de um a outro lado ou mesmo, como se insinua nos testemunhos dos quatro personagens, à transparência deles pelos pensamentos e memórias que se se ouvem não parecem por estes ser ditos a não ser vagas exclamações e as fronteiras, elas próprias se diluem na metáfora de um rio, de um percurso contíguo, contínuo e transversal ininterrupto e comunicante.

A fronteira, contada à distância, torna-se obsuleta e o Salto uma aventura já difícil de conceber, arcaica, num mundo que oxalá se unifique!

Dedicado, como foi acima dito, a David Sobral, o próprio transforma-se na metáfora de quem tanto gostava de viver, tanto gostava que se saltou, ele próprio se conserva entre os que tiveram o previlégio de com ele conviver, numa fusão de elementos que ao rio, às aves, ao vento, à floresta e aos humanos, nas duas margens a todos os une.

As recordações brotam então como um rio onde a água que passa nunca é igual à que passou mas passa e desaguará, está sempre a desaguar num permanente e efusivo sistema de vazos comunicantes.

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Julho de 2008

Anónimo disse...

OBSERVAÇÃO

Mas que mania que eu tenho de escrever hesitar como se fosse exit, do inglês, saída!!!

Deverá ser da vontade de não ... hesitar ...

O vaso, já agora, escreve-se com ésse!!!

As minhas desculpas!

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Julho de 2008

Anónimo disse...

Fui hoje ver "Le Passeur".
A Filipa não estava lá mas estava muita gente e as críticas que ouvi e li foram fantásticas.

O David está lá assim como tu, os teus amigos, o Minho, Moledo e as imagens das passagens entre margens.

Parabéns Filipa.
Beijinhos da tia Nini do David.