20 abril 2008

A dor dos outros

Tenho a teimosia de gostar das pessoas.
Algumas marcaram-me especialmente, por razões profissionais, pessoais ou por fruto do acaso que nos juntou.
Algumas dessas pessoas, raramente as vejo.
Mas aparecem, e ainda bem, em momentos especiais.
Recebi esta mensagem duma dessas amigas que passam mas ficam e que me tocou. Percebo-a, sinto-lhe a melancolia nas palavras que escreve. Também sente a falta de alguém.
Aqui ficam, as dela e as minhas, lado a lado.
Duas saudades!

Isabel

Sábado, 19 de Abril, um dia como outro qualquer, só que feio e escuro como os nossos corações.
Este ano começou assim, reparaste? Ventos carregados doutros gritos, chuvas pesadas doutras lágrimas! A natureza vai exorcizando as nossas mágoas!
Nos dias de sol, a acalmia afaga o teu corpo. E foi num muito recente período curto de céu azul e sol radioso que, do vazio de mim, da aridez de mim, a tua dor, Isabel, fez brotar uma torrente de água negra como a rocha do meu coração. E um vento arrebatador abanou todo o meu corpo ausente, arrastando as gotas grossas e escuras que alagaram os meus olhos indiferentes, inundando o meu rosto gretado de tanta melancolia!
O teu menino!!! Essa faísca em ti, esse trovão em ti, atingiram-me inesperadamente, insuportáveis, como naquele teu momento!
Nenhuma mãe devia ver um filho partir para sempre! Nunca!
Ainda mais com mãos tão cheias de sonhos, como nos dás a conhecer no teu!
Mas nenhum filho devia ver partir sua mãe! Mesmo que ela seja só a sombra silenciosa do que foi, como era a minha, quando o 29 de Março de 2007 amanheceu, sem sol, e a varreu!
Como se vive com tal dor? Está-se cá …e pronto. Tu escreves no teu blog.
Eu voltei para o deserto onde o destino me quis desde antes da adolescência. Dele escapei por temporadas, construindo com o meu companheiro, lentamente, dificilmente, um jardim cheio de cores em constante mutação, como as estações. E por ele passeiam ainda, de quando em vez, os familiares mais próximos, um ou dois amigos, nunca mais, a mãe, muito pouco, os filhos. A menina, a construir agora o seu próprio jardim; o menino, em Praga, a aprender para jardineiro, numa faculdade de medicina!
Por isso, a ele voltei, ao meu deserto, à espera de nada, resignada, preguiçosa, às vezes cheia de mágoa, como no dia em que consegui abrir a caixa do correio electrónico, atulhada, e soube de ti!
Como eu te entendo!! Só quis que o soubesses, porque não sei que mais te dizer.
E que gostei muito de conhecer o David, que o acaso nunca me deixou encontrar.
E que gosto dele.
Um abraço cheio, muito cheio, do que porventura possas desejar sentir.
Alcina

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