23 fevereiro 2008

Ansiedade



A minha ansiedade desperta comigo
Ao amanhecer

Sei que não te irei encontrar
Ainda adormecido
Não te poderei acordar
Com o sol a entrar, sonolento,
Pelo reposteiro
Entretecido

A cada regresso a casa
Já não te verei
Não estarás sentado a ouvir uns sons da Lhasa
Ou encostado na banca da cozinha
No teu ritual
De beber leite de arroz
A acompanhar a torradinha

Sei que seremos dois
E à mesa
Haverá um lugar mudo
Ainda quente
Abandonado
E uma vaga sensação de tristeza

Sei que, ao anoitecer,
Regressará a certeza
Do pouco que há
A perder
E deito-me, exausta e sem sono,
Com medo de novo amanhecer


Isabel Venâncio

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